Trem Republicado

O desprezo e a Cultura, por Gio Carvalho

Por Wellington Caposi em 15/07/2023 às 06:48:45

Aprovaram um projeto de lei municipal que visa impedir o uso de escolas públicas municipais para eventos sem natureza educacional. Acaba afetando eventos culturais e esportivos e centralizando na mão do prefeito a autorização, o que poderia ser decidido pela direção escolar e APMs ou mesmo secretaria própria da Educação. Isso é um descolamento da realidade, uma visão limitada dos espaços públicos e do potencial de uso comunitário dos espaços escolares, baseado em reclamações de whatsapp e redes sociais que, parece-me, são carentes de fundamento.

A justificativa do autor, para talvez rever o projeto, é ainda pior: "Se atingimos esses projetos culturais, possivelmente faremos uma emenda na lei. Eu não sabia de todos esses eventos que acontecem em Salto. Fizemos a lei, conversamos sobre ela e ninguém se atentou. Só atendemos ao anseio de pais que ficaram horrorizados com o que aconteceu". Ele se refere a um evento esportivo universitário em específico.

Pois bem, o que se revela é que vereadores decidem sem conhecer a cidade e sem consultar os setores competentes e interessados. Decidem sentados nos seus gabinetes e no whatsApp. Não vão a campo. Não estudam os ângulos, efeitos, possibilidades e consequências de seus projetos. Quando eleitos, passam a representar somente a si próprios e não uma coletividade.

Quando mantínhamos o Fórum Permanente de Cultura, em 2012, havia uma proposta de um circuito de artes e cursos nas escolas para ocupar esses espaços ociosos nos dois dias por semana e atrair gente para se entender como usuário do espaço fora das obrigações formais. Era sobre CULTURA E PERTENCIMENTO. Havia uma diretriz estadual, não lembro se era lei ou decreto, que permitia atividades nas escolas estaduais, para o público de nosso interesse, a JUVENTUDE ADOLESCENTE. Chegamos a consultar duas escolas que resistiram à ideia. Dava trabalho e não haveria como pagar horas extras.

Agora pensem, se já era difícil conseguir projetos, embora existam algumas diretorias iluminadas e com senso comunitário elevado, os vereadores decidiram impossibilitar tudo. Porque não gostaram de UM EVENTO.

Necessário repensar os espaços públicos e parar de demonizar a juventude. Os excessos ocorrem quando se colocam cabrestos no jovem, sem um fundamento razoável e coerente. Quando soltos, destroem as cercas que os limitam. Mas quando mostra que os espaços são deles, que ELES SÃO AS ESCOLAS, o pertencimento faz cuidar. E coisas maravilhosas acontecem.

Vereadores, por favor consultem os conselhos, associações, se informem antes de legislar. PRINCIPALMENTE, REPENSEM AS ESCOLAS. Não deve ser somente um espaço de formatação do jovem, MAS DE PREPARAÇÃO PARA A VIDA em comunidade e desenvolvimento individual para poder contribuir com o todo. Senão mais fácil seria militarizar de vez e industrializar os cidadãos para a obediência e massa de exploração.

A cidade já está cheia de câmeras, seguranças, guardas municipais e polícias, só falta agora o arame farpado.

Prefeitura de Salto : VETE

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GIO CARVALHO é advogado

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