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Vai faltar água em Salto? Pois é, isso depende de um novo olhar sobre a questão

O abastecimento de água bruta de Salto hoje é finito. Se não aumentarmos essa oferta com novos mananciais, vai faltar água.

Por Claudiney Bravo em 25/08/2023 às 22:39:02

A produção de água tratada em Salto beira os 350 litros por segundo. Chegam nas duas estações de tratamento de água existentes perto de 430 litros por segundo. Mas há perdas no tratamento. Isso significa que se coloca na rede de distribuição da cidade cerca de 1.260 m3 de água trada por hora, o que equivale a perto de 30,24 milhões de litros de água por dia. Em um mês com 30 dias, esse valor chega a 907 milhões de litros. A Assessoria de Imprensa do SAAE Salto informou que em média são faturados mensalmente cerca de 681,1 milhões de litros. Dessa forma existe uma perda próxima a 230 milhões de litros, ou seja perto de 25% do volume de água tratado.

Se ainda considerarmos que na grande maioria dos prédios públicos (exemplo: Escolas municipais e estaduais, biblioteca, Teatro Verdi, secretaria de Obras, outras secretarias, Praça XV, Pavilhão das Artes, Clínicas de Saúde, memorial do Tietê, campo do Cridão, outros campos e praças) não há hidrômetros e nem cobrança da água utilizada, chegaremos a uma perda próxima a 20%, o que é um valor aceitável mundialmente.

O QUE ESSAS CONTAS SIGNIFICAM?

Significa que com um valor aceitável perto dos 750 milhões de litros de água tratada que abastecemos a rede de distribuição mensalmente, abasteceríamos uma população máxima de 150 mil habitantes. Levando-se em conta que cada pessoa gasta - em média 160 litros de água tratada por dia. Aqui já há uma generosidade nos números, pois a média de consumo de água tratada no Brasil é de 180 litros por pessoa por dia.

Como os atuais mananciais - ribeirão Piraí e Ribeirão Buru - apresentam uma vazão média constante e dessa vazão são bombeados cerca de 430 litros por segundo para as duas estações de tratamento de água (Piraí e João Jabour) e também considerando não há novos mananciais sendo pesquisados, chegaremos a uma CONCLUSÃO ÓBVIA que mesmo com todo o investimento feito para diminuir as perdas de água tratada, mesmo com construção de novos reservatórios, mesmo com projetos de novas estações de tratamento de água, se a cidade crescer além dos 150 mil habitantes VAI FALTAR ÁGUA TRATADA.

E O PORQUÊ DESSA CONCLUSÃO?

Porque o abastecimento de água bruta da cidade é finito, ou seja não irá aumentar se não houver a descoberta de outros mananciais. Mesmo com a construção da nova represa do Piraí isso não irá mudar, porque a represa funcionará como uma reserva de água bruta, mas ela continuará sendo abastecida com a mesma vazão que o ribeirão Piraí apresenta hoje. Se acaso aumentarmos a retirada de água da futura represa após ela completamente cheia, seu volume certamente diminuirá consideravelmente. Há um engodo generalizado que a nova represa do Piraí será a salvação, como se água fosse brotar lá dentro por milagre. Pura ilusão. Em hidráulica não há milagres. Se crescermos além dos 150 mil habitantes, sem a descoberta de novos mananciais, VAI FALTAR ÁGUA TRATADA.

Nessa reflexão não consideramos a utilização das águas do Rio Jundiaí, pois ainda é não uma solução economicamente viável para a cidade em utilizá-la. Tanto isso é verdade que existia um projeto de sua utilização, que foi pausado e arquivado mesmo com a verba aprovada e disponível na Caixa Federal. Assim sendo, o verdadeiro investimento no Saneamento Básico deveria ser direcionado para a prospecção de novos mananciais. Se não houver, o Rio Jundiaí é a única esperança.

Nos últimos anos, Indaiatuba fez isso com propriedade e Itu também o fez, por isso ambas estão mais tranquilas nesse sentido. Ficar olhando para o umbigo não é e nunca foi a melhor solução.

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CLAUDINEY BRAVO foi gerente de projetos na área de hidráulica da Jaakko Pöyry Engenharia por 12 anos.

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