Trem Republicado

Editorial: Destacar a voz de uma luta diária

Por da editoria em 08/03/2023 às 07:26:57

Mundialmente neste 8 de março é celebrado o Dia Internacional da Mulher. Em corajoso desafio ao preconceito, à ignorância, ao machismo e à maledicência, esse dia deve ser voltado à reflexão em reconhecer as conquistas sociais, políticas e culturais da mulher, e ainda uma oportunidade para chamar atenção sobre a necessidade de impulsionar movimentos em direção à igualdade de direitos e de condições em relação aos homens.

Quase 50 anos se passaram desde que o Dia Internacional da Mulher foi implantado pela Organização das Nações Unidas e mais de um século se passou das manifestações de operárias na Europa cobrando respeito aos seus direitos. Apesar de todos os avanços registrados, ainda vemos muitos desvios a serem resolvidos ou extintos de uma vez por todas. Um deles e o mais preocupante, é a violência contra as mulheres, dentro e fora de casa. Se essa luta e esse preconceito antes ocorriam principalmente nas ruas e nos lares, agora a opressão está cada vez mais presente também no ambiente online. São muitos os relatos dolorosos que vemos e lemos diariamente.

Relatório atual da ONU Mulheres aponta que 85% delas testemunharam violência digital contra outras mulheres e 35% relataram terem sido elas próprias as vítimas. O ambiente das redes, criado para comunicação e conexão livres, se tornou um território inóspito. As mulheres são até 27 vezes mais propensas a sofrer abusos online do que os homens. Aqui no Brasil, pelo menos mil crimes contra a honra das mulheres repercutiram nos meios de comunicação entre 2015 e 2017, segundo um estudo da Secretaria da Mulher da Câmara Federal. E em função dessa exposição ao ódio, ao menos 127 meninas e mulheres cometeram suicídios nesse período.

A discriminação se origina em hábitos culturais e sociais profundamente arraigados, tanto por parte dos homens como das mulheres, que não são simples de modificar. A educação, nas famílias e nas escolas, os meios de comunicação de massa, o mundo da cultura, a publicidade e a moda são essenciais para deter a reprodução do machismo. Especialmente entre os jovens, onde se observa um recrudescimento das atitudes machistas, violentas e discriminatórias, o trabalho educativo precisa ser muito mais intenso do que vem sendo.

Fazer com todos esses fatores ajam no sentido contrário ao que agiram até agora não é uma tarefa fácil, nem que possa ser imposta por decreto: é preciso contar com a colaboração ativa e cúmplice da sociedade, algo que só um grande diálogo social e político pode lograr. Os homens, cuja participação é imprescindível para pôr fim ao machismo, devem se somar a essa reivindicação, sem medos nem desculpas. E obviamente, também os partidos políticos, as organizações sindicais e as associações empresariais têm um papel em articular e concretizar esse objetivo.

A igualdade entre homens e mulheres à qual uma sociedade democrática aspira só pode ser obtida a partir da liberdade, individual e coletiva. Sua defesa não é ideológica nem pode ser instrumentalizada: ela faz parte do núcleo de valores que articulam o próprio coração das nossas democracias. Tampouco pode ser rejeitada, ridicularizada ou ignorada. Porque a busca pela igualdade e a busca pela liberdade são sinônimos, uma não faz sentido sem a outra. Lutando pela igualdade das mulheres, conquistaremos nossa liberdade, como pessoas e como sociedade, e daremos valor à nossa democracia.

A hora é de reflexão.

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