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Parece leite, mas não é...

Como a crise 'empobreceu' a fórmula dos produtos lácteos do Brasil. Versões de lácteos com soro de leite, amido, gordura vegetal, açúcar e aditivos se tornaram muito mais comuns nos mercados brasileiros.

Por Wellington Caposi em 17/08/2022 às 00:20:42

Nos últimos meses, consumidores brasileiros mais atentos notaram uma mudança importante no Leite Moça, uma das marcas de leite condensado mais conhecidas e utilizadas no país. Junto ao produto tradicional, cuja embalagem é azul, as gôndolas dos supermercados foram inundadas por uma nova versão, na cor marrom. Na parte inferior do rótulo, é possível entender melhor a diferença entre as opções. Enquanto a caixinha azul traz o leite condensado convencional (integral ou desnatado), a marrom é uma "mistura láctea condensada de leite, soro de leite e amido".

E esse não foi o único produto lácteo a apresentar uma nova fórmula nos últimos meses: de acordo com especialistas e relatos dos próprios consumidores, houve um aumento na oferta de opções que substituem parte do leite por outros ingredientes, como o soro de leite, o amido, o açúcar, a gordura vegetal e os aditivos químicos, como conservantes e aromatizantes.

Algumas marcas, por exemplo, transformaram o creme de leite em "mistura de creme de leite". Já o queijo ralado virou "mistura alimentícia com queijo ralado". O doce de leite, por sua vez, foi substituído pelo "doce de soro de leite sabor doce de leite". Em alguns mercados, até o leite tradicional compete nas gôndolas com essas novas bebidas lácteas. "Do ponto de vista nutricional, isso pode ser danoso", alerta Rafael Claro, professor da Universidade Federal de Minas Gerais. "A estratégia é trocar um alimento in natura por ingredientes mais baratos e com baixa densidade de nutrientes. Ou seja: a pessoa compra um produto que parece leite, mas não é", resume Rafael.

Que fique claro: a venda dessas opções está regulamentada nos órgãos competentes, como o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) ou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e - a princípio - não fere nenhuma lei. O grande problema, de acordo com os especialistas, é que vários desses alimentos lácteos "alternativos" têm uma embalagem muito similar à original, trazem no rótulo elementos que remetem ao leite - como vacas, pastos, tonéis e líquidos brancos - e são colocados nas mesmas prateleiras que os produtos tradicionais.

Para completar, nem sempre as novas opções são muito mais baratas - ou a diferença em relação aos itens convencionais é de apenas alguns centavos. Ou seja, tudo para 'enganar' o consumidor desatento.

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