Trem Republicado

Transporte coletivo poderá parar em Salto, se nada for feito

Com a pandemia o total de passageiros transportados foi reduzido de 400 mil para 80 mil por mês. A situação é grave e urgente tanto para a empresa quanto para a cidade.

Por Wellington Caposi em 26/04/2021 às 09:01:12

A Câmara de Vereadores de Indaiatuba, no início de abril, aprovou um projeto de lei, reformulando o subsídio oferecido ao transporte coletivo daquela cidade. Tão logo soube que o prefeito Nilson Gaspar havia concedido uma ajuda subsidiada para a empresa Sancetur, conhecida na cidade com o nome de SOU Indaiatuba, o empresário Rodolfo Nardelli, um dos diretores da concessionária do transporte público de nossa cidade, protocolou na prefeitura um pedido de igual teor para análise. Isso, certamente, ocasionará um debate público sobre o tema, pois a concessionária que oferece o mesmo serviço público aqui em Salto não teve o mesmo benefício. No ano passado, a administração anterior apenas ficou na promessa que iria cumprir o contrato, ressarcindo os prejuízos provocados pela queda na demanda de passageiros em virtude da pandemia. Não o fez e deixou o problema para o novo prefeito Laerte Sonsin Jr que ao assumir e ver o tamanho do problema, afirmou que não poderia cumprir o compromisso sem antes analisar todo o contrato e suas condições.

Durante a entrevista com o TERRATAVARES, Laerte ainda afirmou que houve uma decisão errada do governo federal de subsidiar o transporte público apenas as cidades acima de 200 mil habitantes, aliás isso permitiu que Indaiatuba subsidiasse o seu transporte público. Isso criou uma expectativa para a concessionária de Salto. Como Salto não tem um transporte subsidiado, na visão do prefeito, empresa nenhuma hoje vai conseguir tocar esse serviço público com o preço da passagem que está fixado. "A Nardelli entrou com um pedido de realinhamento, como é uma decisão que envolve não só o transporte público, mas o orçamento do município, nós estamos abrindo consultas públicas para que esse assunto seja debatido com a sociedade. Vou chamar toda a sociedade para participar desse debate. A partir disso, vamos optar qual é o melhor dos caminhos a ser adotado", disse Laerte.

É necessário analisar que há um contrato vigente que garante o transporte de 400 mil passageiros mensais e que devido à pandemia, esse montante hoje não passa de 80 mil passageiros usufruem do serviço. Assim, o reequilíbrio previsto no contrato se torna urgente, no sentido de garantir a amortização dos investimentos para a concessão, cujo valor projetado e oferecido foi calculado no total de passageiros previstos e não na realidade de uma pandemia. "O que me preocupa, isso já tive oportunidade até de externar para os diretores da empresa concessionária, talvez essa solução não venha com a velocidade que eles precisam. Eles estão trabalhando no vermelho todos os meses. Todos os meses, a empresa está colocando recursos para conseguir bancar as despesas desse transporte público" ressaltou Laerte Sonsin Jr.

Em Indaiatuba, além de garantir o repasse complementar desses recursos para a empresa Sancetur, o prefeito Nilson Gaspar retirou o teto de gastos que havia na lei anterior - na ordem de R$ 529.920 reais por mês - o que significa que o repasse pode ser maior que esse valor, se necessário for. Foi esse ponto que convenceu os vereadores daquela cidade a modificar o teto de gastos e reduzir o repasse por passageiro - de R$ 4,25 para R$ 4,17. E também alterar a forma de pagamento à empresa, que agora leva em conta apenas passageiros transportados ao invés de passageiros pagantes.

É visível que os ônibus necessitam rodar, mesmo porque esse é um serviço considerado essencial, mesmo que ele transporte apenas um passageiro. Como a Prefeitura de Salto tem cobrado da empresa a exigência de manter transporte coletivo em operação, essa diferença de valores só tende a aumentar até que se chegue ao patamar inaceitável para ambas as partes. Laerte ainda argumenta que "não acredita que a empresa pare de imediato, mas ela corre o risco de parar num médio prazo".

Com isso não acontecendo na velocidade desejada, o repasse necessário para o reequilíbrio econômico da empresa fica comprometido abrindo uma brecha para a paralisação desse serviço essencial e de extrema importância. Sobre a demora dessa análise, Laerte foi enfático, "uma discussão como essa precisa ser feita sem paixões, sem ideologia e sem viés político. Por isso mesmo, quero abrir esse debate para a população. Para que a população participe efetivamente disso e não acusando um lado ou outro. Olha, funciona assim, não funciona desse ou daquele jeito porque só o prefeito quer. Não vai ser assim. Quem vai decidir o que é ideal para Salto é a população, a Câmara de Vereadores e a sociedade organizada. São esses que realmente vão ser impactados pela decisão a ser tomada".

Os diretores da Nardelli argumentam que não existe mais fôlego financeiro para a empresa suportar essa situação. Perante essa alternativa, se nada for feito com rapidez, a Prefeitura de Salto provavelmente será acionada judicialmente e ficará devendo à empresa o valor pelos serviços já prestados. Não se sabe apenas se isso poderá acontecer nesta próxima semana; ou em 30 dias ou ainda daqui a dois meses.

O que se sabe é que a situação do transporte coletivo em Salto é gravíssima.

Comunicar erro
Fale conosco

Comentários

TT003