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Vem aí a época da estiagem. O que foi feito em Salto para evitar a falta de água? O que cada um pensa disso?

Como todos os anos, o outono começou nesta segunda-feira, 20, com isso a perspectiva de estiagem afetará o abastecimento de água da cidade.

Por Wellington Caposi em 24/03/2023 às 19:26:02

Há cerca de 30 anos, Indaiatuba, Salto, Itu e Cabreúva se uniram e criaram o Consórcio Intermunicipal do Ribeirão Piraí , cujo único objetivo era construir uma barragem no ribeirão Piraí, para regularizar a vazão do manancial em épocas de estiagem. Naquela época, água não era problema na região, mas com o crescimento das quatro cidades, chegamos a um ponto crítico em algumas dessas cidades. Tanto para Salto como para Itu, existe previsão de falta de água nos próximos meses. Itu está investindo no aumento da captação em novos mananciais e ainda nos existentes.

Por outro lado, aqui em Salto. só temos intenções futuras, de imediato apenas uma ou duas obras em andamento. Quando questionados, uma das respostas se refere a nova e grandiosa represa do ribeirão Piraí. Realmente isso é verdade, mas só daqui a seis anos. Isso, se tudo correr muito bem, vamos ter uma represa com espelho d"água com 1.823.960 m² que somados a área de Preservação Ambiental (APP) de 1.617.250 m², engloba um empreendimento de 3.441.210 m². Sua capacidade de reservação de água bruta beira os 9,7 bilhões de litros, numa extensão de 3,5 quilômetros, com largura média de 450 metros e uma profundidade de 15 metros. Isso certamente garantirá, no futuro, o abastecimento para 600 mil habitantes em toda nossa região.

Mas, ainda estamos em 2023 e a obra nem começou de fato. Atualmente o manancial do Piraí é de excelente qualidade, mas durante a estiagem, fica praticamente sem água. Com a construção da nova barragem e a água reservada em sua totalidade, haverá disponibilidade de água bruta para abastecer os quatro municípios e isso garantirá uma vazão constante durante todo o ano. Por isso, o TerraTavares resolveu ouvir cada um dos lados atingidos:


O superintendente do SAAE Salto, Alison Bressiano, posicionou que entre as obras realizadas, "destaca a conclusão da limpeza da Lagoa São João, que estava inoperante desde 2014. Ela deve ser usada como importante reserva de água bruta para a Região Noroeste. Isso proporciona uma maior segurança hídrica, visto que a lagoa possui mais de 30 mil m² de extensão, podendo chegar a 90 milhões de litros de água bruta reservada. Além dela, foram realizadas melhorias no sistema de captação e desassoreamento constante dos mananciais. A "draga", adquirida pelo SAAE Salto em 2021, está no Ribeiro Buru, próximo à captação, para aumentar a profundidade de reserva, assoreada recentemente pela inundação. Há estudos em fase de levantamento de recursos, como a Reversão do Ituaú e da Barragem do Buru. Aqui na cidade, está em andamento a execução do Reservatório do Jardim Donalísio com previsão de entrega para 2º semestre desse ano. Outros seis reservatórios, em pontos estratégicos da cidade, estão aguardando recursos para execução".

Consultado sobre a questão, o prefeito de Indaiatuba, Nilson Gaspar falou a importância da obra para sua cidade: "a barragem é primordial para o crescimento da cidade. Empresas, quando vem para cá, primeiramente se informam sobre a infraestrutura urbana oferecida, como energia, segurança e água. É por isso que a cidade vem ganhando cada dia mais empresas". Concordamos em número e grau com ele, mas Indaiatuba não sofre com falta de água tratada. Por isso é necessário a opinião que quem vive esse drama.

Ouvimos vários depoimentos de cidadãos de várias regiões da cidade, a seguir, compilamos em algumas frases dessas opiniões: "alguma coisa deve ser feita. Não é aceitável chegar em casa após um dia de trabalho e não ter água para um banho". "Você abrir a torneira e sair uma água barrenta, que não dá nem para lavar roupas e muito menos cozinhar". "Passados dois anos e nada mudou apesar da urgência por ações reais". "Fica a impressão que os atuais administradores querem deixar o problema para o próximo prefeito resolver".

O vereador Cícero Landim, sempre preocupado com o cidadão, também expôs seu pensamento ao TerraTavares, sob o ponto de vista político: "Realmente está chegando o momento de um longo período de estiagem. Por conta disto, estou elaborando um requerimento, solicitando ao Executivo algumas informações que julgo importantes. O atual momento é propicio para uso intensivo da "draga" que foi comprada com o curto dinheirinho do contribuinte, e não é aceitável, que ela esteja parada e sem uso. Era para estar dragando areia, barro e outros materiais que hoje ocupam espaço em nossos reservatórios que deveria ser das águas. Outro ponto que quero saber é quando vai realmente iniciar a Estação de Tratamento de Água (ETA) Pedra Branca, que é extremamente necessária a região além rio Jundiaí. Nos foi apresentado em audiência pública, uma grande arrecadação do município, o que nos possibilita uma maior capacidade de investimento, e o investimento hídrico, é fundamental para a vinda de empresas. Ainda mais, precisamos criar uma alternativa a Estação de Captação e Tratamento de Água (ECTA) João Jabour, pois se nada for feito, as chuvas vão continuar inundando aquele equipamento. A impermeabilização do solo, região acima, com novos loteamentos, aumenta muito a possibilidade de inundações e a região noroeste não aguenta mais isso. Por fim, diminuir nossas perdas, com substituição de tubos e a interligação dos dois sistemas, ECTA João Jabour e ECA Pirai, com uma ação como essa, evitaria um possível colapso e diminuiria o sofrimento da população. Tem vereador que reclama daqueles que cobram e não apontam soluções, o que é uma falácia de líderes bonzinhos e mentirosos que não conseguem ir lugar algum".

Thiago Isola, presidente da Associação das Indústrias de Salto (Assisa) está preocupado com o ponto de vista industrial: "a água é um recurso importantíssimo para o setor industrial, e a constância no fornecimento é um elemento fundamental para o dia a dia da empresa, para alguns seguimentos a água não é apenas uma necessidade para fins sanitários, e sim, o uso da água no setor industrial se caracteriza por ser realizado de variadas formas, a citar o uso como insumo no processo produtivo, o uso em sistemas de utilidades (resfriamento, caldeiras, etc), sendo parte fundamental do processo produtivo, nesse sentido cidades onde a falta d"água é constante, certamente será um elemento muito negativo quanto a atração de indústrias, principalmente aquelas que utilizam em seus processos e como matéria prima. Aqui em Salto, nas últimas décadas, não houve investimentos e tampouco preocupação por parte do poder público com relação à questão hídrica da cidade. Isso além de impactar na rotina dos cidadãos, também é um elemento que poderia ter atrapalhado a vinda de industrias para nossa cidade. Ao meu ver ações com urgência são primordiais para melhoria desse abastecimento em Salto, visto que atualmente quase 40% da água tratada é perdida na sua distribuição. Além de ser um grande desperdício, isso, de certa forma é um dano ao erário público, além do que, obviamente, em épocas de estiagem esses 40% fariam uma enorme diferença. Como vender Salto para uma empresa com um problema desse tamanho", finaliza Thiago.

O fato concreto é que o maior inimigo de uma administração pública é o tempo. A imensa burocracia existente engessa toda a máquina pública, e isso gera perda de tempo. Exemplo disso é que já se passaram 27 meses dessa administração e o pouco que foi feito é quase nada. Especificamente, o problema da falta de água na cidade é de conhecimento de todos há muito tempo. Muito antes da posse em 2021. Não se pode argumentar esse desconhecimento. Negar isso é prevaricar. Se administrações passadas não fizeram, é necessário agora resolver a questão. E isso só depende de vontade política.

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