Trem Republicado

REGRAS CLARAS E CONFIABILIDADE por Rose Ferrari

Por Wellington Caposi em 20/01/2021 às 19:39:45

Num mundo em que leads são mais importantes que oxigênio nas UTIs de hospitais, o império de Mark Zuckerberg acaba de dar um passo atrás em sua ânsia de coletar e compartilhar dados dos usuários entre suas redes WhatsApp, Facebook, Messenger, Instagram e sabe-se lá com quem mais. A mudança de regras, anunciada anteriormente para 8 de fevereiro, foi adiada para maio deste ano, dado o furor dos usuários diante de um comunicado que a empresa enviou. Dizia basicamente: ou você aceita que o WhatsApp compartilhe seus dados com Facebook, Messenger, Instagram e outros ou não poderá mais utilizá-lo.

Foi uma gritaria geral e uma onda de cancelamentos de assinaturas sem precedentes. Eu traduzi esse movimento com aquela frase que a gente gritava nas disputas juvenis: como é que você muda a regra do jogo no meio?

Em 2014, quando Zuckerberg comprou o WhatsApp por um valor equivalente a R$ 19 bilhões, ninguém conseguia entender como o conglomerado conseguia ganhar dinheiro com um aplicativo de mensagens que não cobrava por assinaturas nem por downloads, não tinha anúncios nem vendas embutidas.

Nos primeiros seis anos tudo foi uma maravilha para os usuários, que abriram mão do bom e velho telefonema, já que se podia falar privadamente com o mundo, por mensagens de texto, imagens, áudio ou chamadas de vídeo sem gastar nada. Apesar da desconfiança inicial, a comodidade era tanta que, até o final do ano passado, mais de 2 bilhões de pessoas ao redor do mundo já utilizavam o WhatsApp. No Brasil, o número de usuários ultrapassa 120 milhões de pessoas, tendo o app se tornado a principal fonte de informação para 79% dos que o utilizam diariamente.

O povo ingênuo sequer sabe que o compartilhamento de dados já vinha sendo feito veladamente até que chegou uma coisinha para atrapalhar: a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPP), Lei nº 13.709/2018, que entrou em vigor em agosto do ano passado. Diante dela e das leis de diversos outros países, o genial Zuckerberg não pôde mais transitar livremente (mediante o recebimento de alguns dólares, é claro) os preciosos dados que definem perfis de bilhões de pessoas e potenciais consumidores.

O povo ingênuo ficou preocupado com o vazamento para as redes daquela conversa picante ou daquele nude enviado num momento de êxtase. Já estava se descabelando porque todo mundo ficaria sabendo daquela cobrança por dívidas que recebeu durante a pandemia. Muitos começaram a imaginar o WhatsApp cheio das malditas propagandas que já empesteiam as outras redes. O buraco é mais embaixo, brother! É verdade que o WhatsApp falhou em confiabilidade, aliciando bilhões de pessoas com a hipnose da gratuidade, praticidade e eficiência de seu mensageiro, mas eles não violarão suas mensagens, que são criptografadas.

Usarão, sim, os seus dados, ou seja, as informações sobre os seus hábitos e contatos no app para traçar o seu perfil, coisa que TODOS têm feito. Eles só não lhe contaram...

OBS: Emprestei a ilustração do Correio Brasiliense. É por uma boa causa!

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ROSE FERRARI é jornalista, pós-graduada em Língua e Literatura e MBA em Gestão e Mídias Digitais. Produtora Cultural e diretora da Mirarte Editora de Conteúdo.

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