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O esquecido Pintado na Brasa, servido com Arroz à grega e molho Tártaro

A gastronomia local deve ser entendida como elemento indispensável para se conhecer a cultura e os estilos de vida de Salto.

Por Wellington Caposi em 25/10/2022 às 13:26:50

A preservação e a valorização do patrimônio cultural imaterial representam a oportunidade de revitalização e diversificação do Turismo, promovendo o desenvolvimento da economia local, envolvendo diferentes profissionais do setor (produtores, chefs, casa de carnes, mercados, entre outros segmentos). Nesse molde, a gastronomia local deveria exercer esse papel de destaque na oferta e consumo pois é resultante de um mercado local de turismo culinário. O fomento deveria vir do poder público, através da criação de diferentes instrumentos políticos, como a conservação dos bens tangíveis e seu registro, para a salvaguarda dos bens imateriais da cidade.

Exemplo real é o desconhecimento quase que total aqui em Salto, do prato mais tradicional e conhecido da culinária do rio Tietê: "Pintado na brasa com Arroz à grega". Desde início da década de 1960, em frente à Cachoeira do Salto, um restaurante foi batizado como "Restaurante do Salto" imperou por anos. Nas paredes, lindos afrescos em madeira pelo artista plástico saltense Flávio Pretti, complementavam o local numa temática voltada ao rio. Naquela época, para cá vinham turistas de todo o estado, atrás do tal 'Pintado na Brasa'.

Seu primeiro proprietário, Sr. Olindo Rondina, possuía também um outro restaurante especializado em peixes: o também famoso "Mirante do rio Piracicaba". O "Restaurante do Salto" fazia um enorme sucesso. Centenas de pratos do peixe eram comercializados a cada final de semana.


Tanto era assim que um segundo restaurante - 'Mandilão', cujos proprietários era o saudoso Alberto André Ferrari e o amigo Nelson Mosca. Instalado no começo da rua 9 de julho, quase em frente ao hoje 'Paço dos Taperás' (atual biblioteca municipal), comercializava outras centenas de espetos daquele saboroso peixe de água doce. Isso apenas era resultado da distribuição de folhetos impressos na interminável fila de espera aguardando mesas, que se formava a cada sábado e domingo, na entrada do 'Restaurante do Salto'.


Por volta de 1974, o restaurante passou a ser administrado pelos saudosos Jorge Badi Martins e Sérgio Zanni. No final da década de 70, pela exagerada poluição do rio Tietê, o "Restaurante do Salto" foi definitivamente fechado. Os belos quadros de suas paredes misteriosamente desapareceram. A cidade já deixava de ser turística por causa da poluição do rio, perdia também seu principal prato típico com o fechamento do restaurante. Era mais uma tradição culinária, cuja poluição exagerada do rio Tietê, nos privou de saborear e conhecer. Pena que o atual setor gastronômico da cidade não percebeu o valor cultural desse prato. Com isso, o Turismo perdeu, de fato, um produto.


O Pintado na brasa, servido com arroz à grega porém, continua o mesmo: cubos do lombo do peixe de couro; tostados por fora, suculentos e macios por dentro, acompanhados de molho tártaro, batatas fritas e arroz à grega. Uma combinação fantástica! Hoje, 52 anos depois, essa história se perde no tempo. Se algum saltense ou visitante quiser degustar um honesto e saboroso "Pintado na brasa" terá que ir até o Mirante Restaurante, em Piracicaba ou ainda no Restaurante Rosário, em Campinas.

Deixamos, por pura inércia política, esse valor cultural consolidado se perder no tempo. Nunca tivemos, de fato, nos últimos 50 anos, fomento e sustentabilidade para os bens turísticos da cidade. Materiais e imateriais. Na época, éramos de fato uma estância turística, mesmo não tendo nenhuma infraestrutura ou noção do que isso era. Atualmente, recebemos todas as semanas, centenas de turistas, que por falta de informação, seguem para Itu para suas refeições.

Quem sabe, um dia talvez, teremos de volta nosso principal prato típico às mesas de um dos restaurantes da Terra de Tavares.

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