Trem Republicado

Em sua 1ª edição 'Festival Sabor e Som' celebra as origens da cultura brasileira

Nós, brasileiros somos (?) um povo mestiço na carne e no espírito, já que aqui a mestiçagem jamais foi um crime ou pecado.

Por Wellington Caposi em 23/04/2021 às 06:56:28

Pegando emprestado a ideia central desta frase do célebre antropólogo, professor, político e pensador Darcy Ribeiro (1922-1997), o "Festival Sabor & Som" chega à sua primeira edição neste fim de semana. Buscando celebrar por meio da música e da gastronomia a diversidade que forma a gênese da identidade brasileira, o evento é gratuito e será transmitido entre esta sexta (23) e domingo (25), pelo canal do Youtube da Borandá produções. Com curadoria, idealização e direção artística de Gisella Gonçalves, a programação vai dedicar cada um dos três dias da festa a uma das etnias que formaram o Brasil: indígena, africana e europeia.

"Nossa proposta principal é convidar as pessoas a uma reflexão sobre o quanto há de história, de diferentes origens e influências em todas as nossa ações cotidianas", conta Gisella, lembrando que muito da cultura que nos forma como indivíduos pode ser representada em situações consideradas corriqueiras, mas que por fim são muito significativas.

"O ato de cozinhar, por exemplo, tende a ser percebido quase como uma "obrigação" doméstica, mas está carregado de cultura. Quando ouvimos música brasileira no nosso dia a dia, não paramos para pensar no enorme caldeirão cultural que se encontra nesta ou naquela canção. A ideia, portanto, é partir desses pequenos prazeres cotidianos, imediatos – cozinhar, ouvir música – e percebê-los como verdadeiros construtores de nossa identidade que são", argumenta.

Partindo desta valorização dos elementos ancestrais que nos definem, o "Festival Sabor & Som" vai ter início apostando na força da cozinha indígena. Quem abre o evento nesta sexta (23), é a chef paulista Fabiana Badra. Pesquisadora da contribuição das mulheres indígenas na culinária nacional, ela vai apresentar um cardápio com pratos feitos à base de mandioca. No mesmo dia, a cantora amapaense Patrícia Bastos e o violonista e compositor Dante Ozzetti fazem um show com repertório baseado em ritmos musicais da região Norte do País, como marabaixos, cacicós e carimbós.

No segundo dia, a agenda se desdobra pelos sabores da África com a chef Cintia Sanchez, que vai montar uma receita em homenagem ao quilombo do Vale do Ribeira e também à sua avó africana, que por anos foi a cozinheira da família Matarazzo. Outro destaque do dia é o show do cantor e compositor mineiro Sergio Santos, que vai tocar canções marcantes dos seus dez discos gravados. Para Sergio, o tema do festival se alinha perfeitamente com sua proposta musical na carreira

"Tenho um sentimento de grande identificação com atividades que destacam as nuances da cultura brasileira. Procuro manter esse compromisso no meu próprio trabalho desde o início. Levando em consideração o momento tão crítico que estamos vivendo, a existência de festivais como esse que destacam os traços culturais de nossas tradições acaba sendo um ato de resistência. É essencial que nos enxerguemos naquilo que nos compõe culturalmente, que saibamos de onde isso vem", observa o músico.

No terceiro dia é a vez da cultura europeia embalar o festival, com a gastronomia da chef Elenice Altman. Neta de portugueses, ela vai apresentar um menu com clássicos lusitanos como bolinho de bacalhau, arroz de pato e manjar de coco com baba de moça. Fechando o lado musical, o evento contará com um concerto da cantora, compositora e instrumentista Sandra Fidalgo e do acordeonista Toninho Ferragutti. Segundo Gisela, todos os artistas e cozinheiros que formam o lineup desta edição conseguem captar perfeitamente essa multiplicidade cultural que existe na essência do brasileiro. "A gente buscou músicos e culinaristas que refletissem as influências indígena, africana e portuguesa na nossa cultura", ressalta a curadora.

"Fomos felizes de achar artistas com trabalhos riquíssimos como a Patrícia Bastos, que é de Macapá, e junto com o Dante Ozzetti. traz essa nítida influência indígena dos povos do Norte, da Amazônia. O Sergio Santos também foi outro achado, pois ele tem essa coisa monumental sobre a influência africana na música brasileira. E para ressaltar nossa raiz portuguesa, tem a Sandra Fidalgo, cantora e compositora lusitana radicada em Sorocaba que tem uma sonoridade que mistura a musicalidade de Portugal e do Brasil. No final, acho que as origens da cultura brasileira foram bem representadas", conclui.

A programação completa do evento pode ser conferida no site festivalsaboresom.com.br. É gratuito.


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