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Funeral de mais uma jovem morta pela "polícia da moralidade" do Irã tem prisões e agressões

O governo do Irã agiu de forma violenta no funeral da adolescente Armita Garawand, de 17 anos de idade, cuja morte foi anunciada no sábado (28) pela mídia estatal.

Por Wellington Caposi em 31/10/2023 às 14:15:43
Foto: Reprodução internet

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A ativista destacou, ainda, todos os indícios de envolvimento do governo na morte. Citou as imagens, que foram editadas, do sistema interno de câmeras do metrô onde Armita teria sido agredida, o veto à imprensa no hospital onde ficou internada e o fato de que foi o governo, não os familiares da jovem, que anunciaram a morte.

“Nossa Armita Geravand foi morta com mais inocência do que a inocência dos meninos e meninas que perderam a vida por causa das balas”, acrescentou Mohammadi. “Jamais esquecerei a morte inocente de Armita Geravand e não tolerarei mais o ‘hijab obrigatório’, em memória dela.”

Violência estatal que se repete

O caso de Armita guarda terríveis semelhanças com o de Mahsa Amini, de 22 anos, que morreu em consequência de suposta agressão da "polícia da moralidade" em 16 de setembro de 2022. Acusada de usar incorretamente as vestimentas obrigatórias, ela foi presa e forçada a entrar em uma viatura, onde teria sido agredida. Entrou em coma, foi internada e morreu após três dias no hospital.

Armita, por sua vez, teria sido agredida no metrô pela mesma “polícia da moralidade”, igualmente pelo uso incorreto ou pela falta do hijab. De acordo com a rede ABC News, entretanto, as autoridades alegam que ela não foi confrontada, mas sofreu uma queda brusca de pressão que teria ocasionado um desmaio e uma lesão na cabeça, sendo assim internada em coma.

Teerã divulgou imagens do circuito interno de TV da estação de metrô onde ocorreu o acidente. O vídeo, que foi editado, mostra um grupos de jovens sem o véu entrando no vagão. Na sequência, uma menina desacordada é retirada, e a imagem sofre um corte antes de mostrar a chegada dos socorristas.

O argumento usado pelas autoridades para justificar o estado de saúde da estudante igualmente lembra o caso de Mahsa, que segundo Teerã sofreu um ataque cardíaco. Sua família, no entanto, sempre negou que ela tivesse problemas cardíacos e alega que foi torturada.

Em outubro de 2022, cerca de 800 médicos iranianos, todos membros do Conselho de Medicina do Irã, acusaram o chefe do órgão, Mohammad Raeiszadeh, de servir ao governo central ao confirmar o ataque cardíaco como causa da morte de Mahsa. Os profissionais acusam o colega de ignorar as "obrigações morais e sociais dos médicos de proteger as pessoas."

Onda de protestos

A morte de Mahsa Amini desencadeou protestos populares que tomaram as ruas do Irã a partir de setembro do ano passado. As manifestações começaram no Curdistão, província onde vivia a jovem, e depois se espalharam por todo o país, com gritos de "morte ao ditador" e pedidos pelo fim da República Islâmica.

As forças de segurança passaram a reprimir as manifestações de forma violenta, com dezenas de mortes relatadas. A ONG Human Rights Watch (HRW) ainda citou os casos de "centenas de ativistas, jornalistas e defensores de direitos humanos" que, mesmo de fora dos protestos, acabaram presos pelas autoridades, bem como o corte dos serviços de internet e as mídias sociais bloqueadas para reprimir os atos.

No início de outubro de 2022, a HRW ainda publicou um relatório que classifica o regime iraniano como "corrupto e autocrático", denunciando também os abusos cometidos pelas forças de segurança na repressão aos protestos populares.

Legislação mais dura

Em resposta à onda de manifestações, o governo endureceu ainda mais o já existente código de vestimenta imposto a seus cidadãos, cujas vítimas são sobretudo as mulheres. A chamada lei sobre "hijab e castidade" prevê multas e penas de prisão de até dez anos em caso de violação.

O véu é obrigatório no Irã desde 1981, dois anos após a Revolução Islâmica. Pela lei atual, mulheres que aparecerem em locais públicos sem o hijab estão sujeitas a uma pena que varia entre dez dias e dois meses de prisão ou uma multa de até 500 mil riais (R$ 58).

A nova lei, que vinha sendo debatida desde junho, foi abordada pela ONU (Organização das Nações Unidas) no início de setembro. Oito especialistas em direitos humanos foram designados pela entidade para avaliar o texto legal e seus desdobramentos.

"O projeto de lei poderia ser descrito como uma forma de apartheid de gênero, uma vez que as autoridades parecem governar através de discriminação sistêmica, com a intenção de reprimir mulheres e meninas até à submissão total", disseram os especialistas.

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