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Educação midiática é caminho contra desinformação

Finalidade e objetivo é ensinar aos jovens identificar boatos e checar informações.

Por Agência Brasil em 28/03/2023 às 06:49:05

A educação midiática é um conjunto de habilidades para analisar, criar e participar de maneira crítica do ambiente informacional e midiático em todos os seus formatos. Sete em cada dez jovens de até 15 anos no Brasil não distinguem fatos de opiniões, segundo pesquisa da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Para reverter esse cenário, especialistas apostam na educação midiática como resposta para reconhecer fakes news, discursos de ódio e ainda produzir e compartilhar mensagens com responsabilidade. Na avaliação deles, a manutenção da democracia também depende de uma sociedade bem informada.


Patricia Blanco, presidente do Instituto Palavra Aberta, afirma que esse tipo de formação é importante para todos os cidadãos. O instituto coordena o Educamídia, programa de capacitação de professores e engajamento da sociedade no processo de educação midiática. Ainda defende que a educação deve ser voltada à formação de pessoas com pensamento crítico e aptas a consumir, analisar e produzir conteúdos e informações deveria ser uma política pública de educação.

Absurdos

A estudante Milena Teles, 23 anos, afirma que consegue reconhecer quando uma desinformação surge nas redes sociais. "Aparecem mensagens muito absurdas que você sabe de cara que é uma fake news como: o limão cura a covid ou tomar um chá todo dia em jejum vai curar ou prevenir o câncer. Coisas muito absurdas sempre serão mentiras", afirma.

A análise, entretanto, nem sempre está ao alcance de crianças e jovens. "Para pessoa adulta já é difícil, às vezes, sem ter uma prática, sem ter uma orientação de checagem de fato, saber quando uma informação é verdadeira ou falsa, se é rumor, boato ou se ela corresponde a um fato que está sendo noticiado, imagina para crianças e adolescentes", avalia Jade Percassi, pesquisadora do Sou_Ciência da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Tema nas escolas

Segundo o secretário de Políticas Digitais, João Brant, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) - documento que define os conteúdos de aprendizagem essencial dos alunos - prevê a educação midiática como um tema transversal e eletivo nas escolas. Por isso, segundo ele, o momento é de produzir ainda mais conteúdos e qualificar professores.

"Apostamos na educação midiática tanto do ponto de vista formal como informal, tanto em parceria com o MEC, na articulação com as secretarias de educação, quanto em relação a atividades de promoção de cursos, oficinas, conteúdos mais rápidos como chave para enfrentamento do problema no país", afirma Brant.

Segundo Patricia Blanco, secretarias de educação de diversas cidades já abriram espaço tanto para a qualificação de professores como para a inclusão da temática em seus currículos.

A presidente do Palavra Aberta cita como exemplo a Educação do estado de São Paulo, que fez uma revisão do currículo e incluiu dentro da disciplina de Tecnologia e Inovação todo o conceito de educação midiática. Segundo ela, alunos de ensino fundamental 2 e ensino médio já têm acesso a esse tipo conteúdo. Outros estados também estão implantando o tema de forma transversal como Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Goiás e Ceará. Segundo Patrícia, a perspectiva é que, nos próximos anos, o tema se torne recorrente e que a formação faça diferença na vida dos alunos.

Formação abrangente

Para o secretário de Políticas Digitais, João Brant, a formação digital deve ser ainda mais abrangente. Ele ressalta que existem os nativos digitais que lidam muito bem com as tecnologias.

"Mas, não necessariamente, com todos os instrumentos e repertórios para interpretar e identificar a desinformação, identificar fake news e perceber os problemas que circulam nas redes". Os conteúdos digitais, entretanto, também têm sido consumidos por uma população mais velha, em idade adulta ou idosa, que acaba sendo mais suscetível à desinformação e às fake news, segundo Brant.

Maria Helena Weber, do Observatório da Comunicação Pública, também defende que a formação digital deva ocorrer em qualquer momento da vida escolar. "É preciso que se tenha referência, se possa estudar, se possa ter acesso a uma discussão a um debate do que significa a comunicação digital hoje, as redes sociais hoje e para isso é preciso oferecer instrumentos para que as pessoas não sejam tão vulneráveis".

Audiência

O Supremo Tribunal Federal retoma nesta terça-feira, 28, uma audiência sobre o Marco Civil da Internet. O debate deveria ter ocorrido em 2020 e foi suspenso por causa da pandemia da Covid-19. No mês passado, em Paris, especialistas e governos discutiram soluções regulatórias para a atual crise de desinformação em ambiente online, durante a conferência global Por Uma Internet Confiável, realizada pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco).

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