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Após policiais serem presos por suspeita de extorsão, delegacia retoma rotina com nova equipe

Delegacia de Indaiatuba retomou rotina após prisão de policiais — Foto: Reprodução/EPTV A Operação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), que prendeu, na terça-feira (26), praticamente uma equipe inteira do 1º Distrito Policial de Indaiatuba (SP), mudou a rotina da delegacia.

Por Wellington Caposi em 27/03/2024 às 19:29:53

O delegado titular, José Clésio Silva de Oliveira Filho, dois investigadores e um escrivão são apontados pela Promotoria como integrantes de um esquema que extorquia dinheiro de empresários da cidade exigindo até R$ 3 milhões em propina por meio de falsas investigações.

Além deles, também foram presos temporariamente e são investigados guardas municipais, advogados e servidores da prefeitura. Com a prisão dos funcionários, a delegacia retomou a normalidade nesta quarta-feira (27) com uma equipe nova de servidores. O prédio inclusive foi alvo de busca e apreensão durante a operação.

Uma força-tarefa foi criada para auxiliar nas investigações. Um delegado assistente já assumiu as funções, enquanto que funcionários até tiveram férias adiadas para retomar o funcionamento da unidade e manter o andamento das apurações.

De acordo com informações repassadas ao g1 pelo Gaeco nesta quarta, o MP ainda contabiliza quantos boletins de ocorrência e inquéritos foram forjados durante o esquema para separar o que de fato é uma investigação em andamento e o que era apenas usado para a prática de extorsão.

É bem narrado na investigação uma sala que nós chamamos de sala de extorsão, aonde foi colocado drogas na mesa e tinha uma vítima que estava algemada com claros indicativos de, olha, aceita o acordo ou essas substâncias ilícitas serão suas’, explicou o promotor de Justiça Paulo Carolis.

À EPTV, afiliada da Globo, a defesa do delegado José Clésio Silva de Oliveira Filho disse que não iria se manifestar ainda porque os autos do processo estão em segredo de Justiça.

Procurada, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) não se manifestou até a última atualização desta reportagem.

Perfil

 

Clésio iniciou a carreira como delegado em 2010 nas delegacias da capital e chegou a Indaiatuba em março de 2021 como delegado-assistente do 1º Distrito Policial. Em janeiro de 2023, com a transferência do então titular para Campinas, foi nomeado a delegado-titular do 1º DP da cidade.

O investigado foi promovido a delegado de 1ª classe (segunda maior graduação para delegados) pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em 15 de agosto de 2023. Segundo publicação no Diário Oficial, a promoção foi por “merecimento”. No cargo, Clésio teve remuneração bruta de R$ 29.657,20 em fevereiro deste ano.

Como titular em Indaiatuba, Clésio ganhou notoriedade na mídia em dois casos, especialmente. No inquérito que apurou a morte de um engenheiro dentro da Festa do Peão de Indaiatuba e na investigação sobre o assalto a uma joalheira no Shopping da cidade.

Sala de extorsão

 

Segundo promotores de Justiça, Clésio mantinha no 1º Distrito Policial (DP) de Indaiatuba uma “sala de extorsão”, onde policiais ameaçavam imputar crimes a detidos se não pagassem propina à quadrilha.

Células de atuação

 

Além de Clésio, investigadores, guardas municipais, funcionários comissionados da Prefeitura e advogados são suspeitos de participação na organização criminosa.

Segundo os promotores de Justiça, as investigações apontam que o delegado titular do 1º DP de Indaiatuba era o chefe da organização criminosa e que os outros integrantes atuavam em grupos dentro do esquema, as chamadas células de atuação.

  • Policiais civis e guardas municipais: invadiam estabelecimentos comerciais para forjar falsos flagrantes contra os empresários e fazer, indevidamente, apreensões de bens e dinheiro.
  • Advogados: atuavam como intermediadores no pagamento de propina, fazendo a contagem e o transporte do dinheiro, além de cobrar honorários sobre os valores extorquidos.
  • Servidores comissionados: atuavam no contato com os empresários extorquidos a fim de cobrar as propinas previamente exigidas.

“Ao delegado, neste momento na investigação, foi imputada a liderança dessa situação porque ele efetivamente firmava os documentos, como relatórios e instauração de inquérito policial. E os elementos são indicativo de que as propinas se destinavam a ele.”, explicou Paulo Carolis, promotor do Gaeco.

A operação

 

Ao todo, promotores de Justiça, com o apoio da Polícia Militar e da corregedoria da Polícia Civil, cumpriram na quarta-feira 17 mandados de busca e apreensão e 13 de prisão temporária (por 30 dias). 15 veículos foram apreendidos.

A suspeita é que os investigados tenham exigido, pelo menos, R$ 10 milhões de reais de propina desde 2022, para arquivar investigações que eram forjadas pelos suspeitos. Entre as vítimas, cerca de 10 proprietários estabelecimentos comerciais, como supermercados, lojas de roupas e estacionamento de veículos.

Alvos de prisão temporária

 

Segundo o Ministério Público, 14 mandados de prisão temporária, com validade de 30 dias, foram expedidos pela Justiça e 13 foram cumpridos, restando um foragido. As prisões podem ser prorrogadas por mais 30 dias ou ser convertidas em preventiva (por tempo indeterminado).

  • O delegado do 1º DP de Indaiatuba;
  • Um escrivão;
  • Dois investigadores, sendo uma mulher presa na casa dela em Itu (SP);
  • Dois guardas municipais;
  • Três advogados;
  • Três funcionários comissionados da Prefeitura de Indaiatuba;
  • Um fiscal da Prefeitura de Indaiatuba;
  • Um homem está foragido.

 

Crimes investigados

 

  • Extorsão mediante restrição de liberdade
  • Organização Criminosa
  • Roubo
  • Furto
  • Corrupção ativa

 

Invasão de comércios e fabricação de inquéritos

 

De acordo com o Gaeco, o grupo de Indaiatuba fabricava boletins de ocorrência, inquéritos e relatórios de investigação para sustentar exigência de pagamentos como preço de “resgate” de eventuais prisões decretadas ou garantias de não investigação.

Os boletins, as investigações e até as prisões eram forjadas. Segundo o MP, dezenas de empresários foram extorquidos no período de um ano. O valor das extorsões variava de R$ 1 a R$ 3 milhões.

O nome da operação, “Chicago”, remete à cidade americana dos anos 20 e 30, quando gangsters governavam a cidade “à base de violência, desprezando a lei e criando fortunas com os crimes”. Pelo menos 15 promotores de Justiça, 10 servidores do Ministério Público, 94 policiais militares e 19 policiais civis participaram da operação.

Delegacia de Indaiatuba retomou rotina após prisão de policiais — Foto: Reprodução/EPTV

Com informações: g1 Campinas

Foto: Toni Mendes/EPTV

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