O delegado titular, José Clésio Silva de Oliveira Filho, dois investigadores e um escrivão são apontados pela Promotoria como integrantes de um esquema que extorquia dinheiro de empresários da cidade exigindo até R$ 3 milhões em propina por meio de falsas investigações.
Além deles, também foram presos temporariamente e são investigados guardas municipais, advogados e servidores da prefeitura. Com a prisão dos funcionários, a delegacia retomou a normalidade nesta quarta-feira (27) com uma equipe nova de servidores. O prédio inclusive foi alvo de busca e apreensão durante a operação.
Uma força-tarefa foi criada para auxiliar nas investigações. Um delegado assistente já assumiu as funções, enquanto que funcionários até tiveram férias adiadas para retomar o funcionamento da unidade e manter o andamento das apurações.
De acordo com informações repassadas ao g1 pelo Gaeco nesta quarta, o MP ainda contabiliza quantos boletins de ocorrência e inquéritos foram forjados durante o esquema para separar o que de fato é uma investigação em andamento e o que era apenas usado para a prática de extorsão.
“É bem narrado na investigação uma sala que nós chamamos de sala de extorsão, aonde foi colocado drogas na mesa e tinha uma vítima que estava algemada com claros indicativos de, olha, aceita o acordo ou essas substâncias ilícitas serão suas’, explicou o promotor de Justiça Paulo Carolis.
À EPTV, afiliada da Globo, a defesa do delegado José Clésio Silva de Oliveira Filho disse que não iria se manifestar ainda porque os autos do processo estão em segredo de Justiça.
Procurada, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) não se manifestou até a última atualização desta reportagem.
Clésio iniciou a carreira como delegado em 2010 nas delegacias da capital e chegou a Indaiatuba em março de 2021 como delegado-assistente do 1º Distrito Policial. Em janeiro de 2023, com a transferência do então titular para Campinas, foi nomeado a delegado-titular do 1º DP da cidade.
O investigado foi promovido a delegado de 1ª classe (segunda maior graduação para delegados) pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em 15 de agosto de 2023. Segundo publicação no Diário Oficial, a promoção foi por “merecimento”. No cargo, Clésio teve remuneração bruta de R$ 29.657,20 em fevereiro deste ano.
Como titular em Indaiatuba, Clésio ganhou notoriedade na mídia em dois casos, especialmente. No inquérito que apurou a morte de um engenheiro dentro da Festa do Peão de Indaiatuba e na investigação sobre o assalto a uma joalheira no Shopping da cidade.
Segundo promotores de Justiça, Clésio mantinha no 1º Distrito Policial (DP) de Indaiatuba uma “sala de extorsão”, onde policiais ameaçavam imputar crimes a detidos se não pagassem propina à quadrilha.
Além de Clésio, investigadores, guardas municipais, funcionários comissionados da Prefeitura e advogados são suspeitos de participação na organização criminosa.
Segundo os promotores de Justiça, as investigações apontam que o delegado titular do 1º DP de Indaiatuba era o chefe da organização criminosa e que os outros integrantes atuavam em grupos dentro do esquema, as chamadas células de atuação.
“Ao delegado, neste momento na investigação, foi imputada a liderança dessa situação porque ele efetivamente firmava os documentos, como relatórios e instauração de inquérito policial. E os elementos são indicativo de que as propinas se destinavam a ele.”, explicou Paulo Carolis, promotor do Gaeco.
Ao todo, promotores de Justiça, com o apoio da Polícia Militar e da corregedoria da Polícia Civil, cumpriram na quarta-feira 17 mandados de busca e apreensão e 13 de prisão temporária (por 30 dias). 15 veículos foram apreendidos.
A suspeita é que os investigados tenham exigido, pelo menos, R$ 10 milhões de reais de propina desde 2022, para arquivar investigações que eram forjadas pelos suspeitos. Entre as vítimas, cerca de 10 proprietários estabelecimentos comerciais, como supermercados, lojas de roupas e estacionamento de veículos.
Segundo o Ministério Público, 14 mandados de prisão temporária, com validade de 30 dias, foram expedidos pela Justiça e 13 foram cumpridos, restando um foragido. As prisões podem ser prorrogadas por mais 30 dias ou ser convertidas em preventiva (por tempo indeterminado).
De acordo com o Gaeco, o grupo de Indaiatuba fabricava boletins de ocorrência, inquéritos e relatórios de investigação para sustentar exigência de pagamentos como preço de “resgate” de eventuais prisões decretadas ou garantias de não investigação.
Os boletins, as investigações e até as prisões eram forjadas. Segundo o MP, dezenas de empresários foram extorquidos no período de um ano. O valor das extorsões variava de R$ 1 a R$ 3 milhões.
O nome da operação, “Chicago”, remete à cidade americana dos anos 20 e 30, quando gangsters governavam a cidade “à base de violência, desprezando a lei e criando fortunas com os crimes”. Pelo menos 15 promotores de Justiça, 10 servidores do Ministério Público, 94 policiais militares e 19 policiais civis participaram da operação.
Delegacia de Indaiatuba retomou rotina após prisão de policiais — Foto: Reprodução/EPTV
Foto: Toni Mendes/EPTV