Enquanto as Secretarias Municipais da Educação se articulam para a volta às aulas presenciais, a sociedade mantém muitos debates sobre os protocolos de saúde que devem ser adotados; sobre a necessidade de reestruturação de alguns espaços fÃsicos das escolas; das barreiras sanitárias que precisam fazer parte da rotina escolar e dos desafios do ensino hÃbrido. Apesar de todas essas questões serem fundamentais para um retorno seguro, é preciso lembrar a importância de olhar para o professor no momento de retomada das aulas presenciais.
Afinal, são os educadores que vão acolher tantos alunos e alunas emocionalmente abalados, seja por conta do isolamento social, ou por terem perdido familiares vÃtimas da pandemia ou porque a famÃlia teve uma mudança no padrão de vida por complicações financeiras ocorridas nesse cenário tão desafiador. Mas, por outro lado, quem acolhe os professores e as professoras, que também têm suas dores, angústias e receios, sendo que muitos ainda podem fazer parte do grupo de risco?
De acordo com a consultora educacional Jusley Valle - fundadora da Academia de Pais Conscientes - o planejamento e o acolhimento por meio do preparo emocional desses profissionais são de extrema importância, já que os educadores estarão na linha de frente para receber os alunos e famÃlias, dentro de uma realidade alterada e com muitas adaptações.
"O professor se encontra no meio do olho do furacão, porque é atingido não só como profissional, mas também como indivÃduo. É bom lembrar que os professores, antes e além de serem professores, são homens e mulheres, pais e mães, seres humanos que sofrem com angústia, inseguranças, estresse emocional e fÃsico, sobrecarga de trabalho?", pontua Jusley Valle.
Para a consultora educacional Sandra Helena Santos, é preciso olhar com prioridade o bem estar do educador para que ele possa executar seu trabalho e encontrar novas soluções para os atuais desafios. "O educador é o elemento conector do estudante com a aprendizagem e com os ambientes que propiciam a aprendizagem. É o elemento que impulsiona o gosto por aprender. Então, quando estamos numa situação como a atual em que o elemento conector também foi e, está sendo afetado diretamente, faz-se necessário mais que um apoio", ressalta Sandra.
Segundo ela, a recomendação é ter um olhar único para cada professor. Por isso, ela sugere diagnosticar o corpo docente, para verificar quais dificuldades cada profissional está enfrentando. Depois disso, o caminho sugerido é fornecer subsÃdios adequados, como tecnologia, apoio emocional, pensar soluções de aprendizagem e fornecer equipamentos/instrumentos pedagógicos.
"Pode parecer piegas, mas o amor e a compaixão são emoções que devem ser vivenciadas em sua plenitude. Os gestores educacionais devem estimular a aprendizagem naquilo que faz sentido nesse momento, que não é o conteúdo técnico, mas talvez o exercÃcio de comportamentos que estimulem práticas como a empatia, compaixão, resiliência e até a compreensão sobre o meio ambiente, consequências da pandemia e saberes que talvez e, certamente, não estarão na grade curricular", sugere Sandra.
Na visão da consultora educacional Jusley Valle, acolher o professor é a primeira etapa dentro do planejamento e da estratégia de retorno das aulas. Ela afirma que é vital realizar um trabalho de desenvolvimento de habilidades e competências sócio-emocionais para o time de educadores, com o objetivo de minimizar os impactos dessa transição e manter a conexão entre escolas, alunos e famÃlias.
Numa escala de 0 a 5, em que zero é nada confortável e cinco muito confortável, a média do nÃvel de conforto de professores das redes privada, estadual e municipal em relação a volta às aulas foi de 1,07. Esse desconforto é compreensÃvel porque todo o ambiente escolar, desde os prédios, espaços, as turmas e salas de aula, o currÃculo e o trabalho realizado pelos professores, promove o que hoje é tido como aglomeração. Ainda segundo Helena Singer(consultora em projetos de pesquisa e formação em educação e inovação social e lÃder da Estratégia de Juventude América Latina), além de os protocolos de saúde irem contra a estrutura própria das unidades escolares, o distanciamento também tem um efeito sobre o desenvolvimento dos estudantes.
Reafirmo que ter crianças sem poderem se tocar e interagir, sem que os professores possam tocar nelas, sem que haja o contato humano no prédio da escola, é algo absolutamente contrário às necessidades de desenvolvimento da criança. Então, não é para nos acostumarmos ao retorno escolar, e sim de reinventar uma escola que garanta as condições saudáveis nesta fase de pandemia, que ainda não está encerrada. Dessa forma, o mais importante - nesse momento - é que tal fato seja o centro das atenções de todos, porque sem elaborarmos um plano viável e de conhecimento de todos, não há como reassumir os lugares de professor, de estudante, de gestor e de servidores da escola.
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THIAGO ISOLA é presidente da Associação das Indústrias de Salto, presidente do Conselho Municipal da Saúde, coordenador do Plano de AuxÃlio Mútuo de Salto e diretor do Grupo Athenas.