Trem Republicado

Professor que jĂĄ deu aula no CEUNSP, em Salto, Ă© destaque em campanhas eleitorais pelo continente sul americano

Quem é o marqueteiro brasileiro que assessorou Pedro Castillo, no Peru, e faz campanhas de esquerda em toda América Latina?

Por Wellington Caposi em 22/06/2021 às 17:54:08

Em meio à polarizada disputa no Peru entre o virtual presidente eleito, Pedro Castillo (de esquerda), e a segunda colocada, Keiko Fujimori (da direita), ganhou atenção no debate pĂșblico local a figura de um brasileiro, o marqueteiro polĂ­tico Amauri Chamorro.Pouco conhecido do grande pĂșblico no Brasil, Chamorro fez carreira fazendo campanhas polĂ­ticas para candidatos de partidos da esquerda na América Latina. Foi responsĂĄvel pela estratégia de redes sociais dos governos do ex-presidente equatoriano Rafael Correa, a partir de 2011 e, recentemente foi assessor de imprensa de Andrés Arauz, candidato apoiado por Correa e derrotado nas Ășltimas eleições presidenciais no Equador, em abril deste ano. Chamorro foi ao Peru entre o primeiro e o segundo turno das eleições e fez campanha para Castillo. Em 9 de junho, trĂȘs dias após a votação no segundo turno e antes do fim da apuração, ele postou uma foto ao lado de Castillo em redes sociais, comemorando a vitória. Ao menos em uma entrevista, ao canal de televisão brasileiro TVT, Chamorro também foi apresentado como assessor da campanha do peruano.

A viagem a Lima, a foto e os posts pró-Castillo de Chamorro o tornaram alvo de uma chuva de ataques de apoiadores de Keiko. Filha do ex-ditador Alberto Fujimori, que governou o Peru entre 1990 e 2000, ela perdeu sua terceira eleição presidencial seguida, desta vez para Castillo, por 44 mil votos. A candidata tem questionado o processo eleitoral, denunciando uma suposta fraude, sem apresentar provas. Nas redes sociais, Chamorro tem sido acusado por fujimoristas de ser "estrategista conhecido por perpetrar fraudes eleitorais na América Latina". Em geral, acompanham os posts de ataque ao marqueteiro fotos ou vĂ­deos em que ele aparece ao lado de Correa e do venezuelano NicolĂĄs Maduro. Não existem, porém, evidĂȘncias da participação de Chamorro em fraudes. Sua atuação em campanhas nas redes sociais é questionada em paĂ­ses como Equador e Colômbia por outras razões, como ser remunerada com dinheiro pĂșblico.

No Peru, oficialmente a campanha de Castillo tem negado, inclusive ao GLOBO, a contratação de Chamorro, mas um membro do partido de Rafael Correa confirmou que houve uma indicação do marqueteiro a polĂ­ticos do partido Peru Livre, sigla de Castillo. Procurado, Chamorro não quis dar entrevista. Reafirmou ter trabalhado na campanha de Castillo, mas diz que não vai questionar declarações do entorno do polĂ­tico sobre o fato. "Sou um soldado da segunda independĂȘncia da América Latina. Eu não quero protagonismo, apenas a soberania, a justiça e a dignidade para nosso continente", disse em nota.

Analista e estrategista

Em seus perfis em redes sociais, Chamorro se apresenta como "criador de estratégias" e analista polĂ­tico, e defende posições alinhadas à esquerda. A interlocutores, diz jĂĄ ter trabalhado em 11 campanhas eleitorais na América Latina, sempre para candidatos de esquerda. Seu primeiro grande cliente foi o governo Correa, que, ao que tudo indica, abriu-lhe portas em siglas dessa tendĂȘncia no continente. Em suas redes sociais, o brasileiro tem fotos com polĂ­ticos como o ex-presidente Lula, a argentina Cristina Kirchner, o uruguaio Pepe Mujica, além de Maduro e da hoje vice-presidente venezuelana, Delcy RodrĂ­guez. Chamorro aparece em fotos como parte da delegação da então chanceler RodrĂ­guez na Organização dos Estados Americanos (OEA), em 2017. No mesmo ano, aparece ao lado do cineasta Marco EnrĂ­quez-Ominami Gumucio, que se candidatou à PresidĂȘncia no Chile e ficou em sexto lugar.

Chamorro tem 42 anos. Nasceu no Equador, é filho de uma brasileira e um equatoriano e tem dupla nacionalidade. Fez a maior parte de seus estudos no Brasil. Formou-se em Jornalismo em 2003 pela Universidade de Sorocaba, e reside atualmente em São Paulo. Segundo seu currĂ­culo acadĂȘmico, concluiu mestrado em Comunicação PolĂ­tica na Universidade Autônoma de Barcelona em 2014. No Brasil, foi professor na Universidade Paulista (Unip) entre 2008 e 2009, e no Centro UniversitĂĄrio Nossa Senhora do PatrocĂ­nio , em Salto (SP), no curso de Publicidade e Propaganda, em 2008.

No Brasil, Chamorro é dono da empresa Contato Studios Comercial , que tem capital social de R$ 40 mil e que jĂĄ teve sua mãe, Anitta Chamorro, como sócia. No Equador, o site jornalĂ­stico 4pelagatos , crĂ­tico a Correa, afirma que empresas de Chamorro receberam dinheiro pĂșblico para fazer crĂ­ticas a opositores do governo com o uso de perfis falsos. Chamorro sempre negou trabalhar com o uso de robôs e afirma publicamente ser contrĂĄrio a essa artimanha.

Dinheiro pĂșblico

O site equatoriano cita, em reportagem de 2018, trĂȘs contratos de empresas de Chamorro com o Tribunal Contencioso Eleitoral, uma espécie de Tribunal Superior Eleitoral do Equador, que somam US$ 184 mil. Os acordos teriam sido firmados durante o Ășltimo mandato de Correa a partir de 2014. À época, o órgão era acusado pela oposição de ser aparelhado pelo presidente. JĂĄ na Colômbia, o marqueteiro assessora, desde agosto de 2020, segundo a imprensa local, a prefeitura de MedellĂ­n, comandada desde o ano passado pelo polĂ­tico de esquerda Daniel Quinteros. De acordo com a revista colombiana Semana, Chamorro tem ali trĂȘs contratos com a prefeitura, que somam o equivalente a R$ 400 mil reais. A publicação afirma que as contratações são legais, embora também mencione o possĂ­vel uso, por Chamorro, de contas falsas em redes sociais como estratégia de comunicação.

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