A culpa sempre será da imprensa

O sintoma é pandêmico. Sempre vai e volta ao sabor dos tempos e de lugares, principalmente quando estes são sombrios. Atinge governos não muito afeitos à transparência no trato com as informações. Ainda pior: a ideia de que uma suposta culpa pelos desmandos e mazelas que ocorrem em suas administrações, recai quase sempre sobre a imprensa. É como se um vírus sobrevivesse latente no senso comum, se manifestasse uma ou outra vez. Um dos editores do jornal francês Le Monde, Yves Mamou, no início dos anos 90, destacou em seu artigo "A culpa é da imprensa", a desinformação, a mentira e o engano, embasados na má-fé e no jogo pelo poder, artifícios amplamente usados por políticos e comerciantes como possibilidades de corromper a sociedade.

Mas não é preciso ir tão longe para notar isso. Nem na história e muito menos territorialmente. Agora mesmo, em plena caminhada que o grupo do atual prefeito, pela sua campanha à reeleição, um dos nossos editores foi intencionalmente ignorado, na principal rua da cidade pelo próprio candidato que passou por ele, como se não existisse. O motivo certamente foi a publicação de uma notícia vinda do Superior Tribunal de Justiça, publicada dias antes pelo TERRA TAVARES. A transferência da culpa do atual prefeito ter suas contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas do estado de São Paulo e ratificadas pela Câmara de Vereadores em 2015, recaiu para o jornalista, como forma de punição.

George Orwell dizia que "jornalismo, de verdade, é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto seria publicidade". Por certo, no episódio aqui sintetizado, o protagonista principal certamente atribui grande parte de sua culpa ao portal TERRA TAVARES e não a má gestão pública de sua equipe. Tudo bem, sabemos que é da índole do ser humano sempre atribuir a outrem a culpa por suas desventuras e seus infortúnios. Porém, uma circunstância comum aqui é o respeito mútuo à Constituição Federal no que concerne à liberdade de imprensa. Não é difícil concluir, em regra, que governantes e políticos não toleram esse princípio constitucional da transparência e, por óbvio, a imprensa sempre irá incomodar, porque sua atuação implica em dar luz a fatos e circunstâncias.

É bom que se diga que esse editorial do TERRA TAVARES não é um libelo em favor de todos os veículos de imprensa, até porque sabe-se que muitos deles pecam pela falta de ética e por nutrirem interesses outros, que não a busca da verdade da informação. Afinal, como dizia Albert Camus, "uma imprensa livre pode ser boa ou ruim, mas certamente sem essa liberdade, a imprensa será sempre ruim".