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Mesmo pagando entre R$ 80 mil e R$ 90 mil reais, moradores do loteamento clandestino Recanto Beira Rio devem perder seus terrenos

Os responsáveis pela venda também respondem por parcelamento de solos em outros municípios.

Por Wellington Caposi em 24/04/2021 às 13:11:07

Para as famílias que residem no Recanto Beira Rio, em Indaiatuba (na divisa entre Salto e Indaiatuba), o sonho da casa própria acabou se tornado um verdadeiro pesadelo sem nenhuma previsão para acabar. Segundo a prefeitura de Indaiatuba, o loteamento está localizado numa área rural onde não poderia haver parcelamento de lotes e o terreno em questão foi dividido em 82 lotes menores, que foram comercializados em 2019 aos moradores. Cada um desses lotes custou entre R$ 80 mil e R$ 90 mil reais na época. Uma ação da prefeitura de Indaiatuba, com a justificativa de parcelamento indevido de solo, a administração obteve uma liminar na Justiça autorizando a retirada dos moradores e demolição das casas no loteamento.

De acordo com os residentes, os terrenos foram colocados no mercado por três homens, a quem acusam de ter aplicado golpes: Antônio Carlos dos Santos, Daniel Teodoro da Silva e Ralf Vilas Boas Berbel. Segundo a advogada dos moradores, Dra. Josiane Martins, uma consulta ao Tribunal de Justiça revelou que os três respondem por parcelamento de solo também em outros municípios.

"Eles [vendedores] falam que tudo está ok. No início, falavam que estava tudo regular, e hoje eles fogem das responsabilidades. Eles simplesmente aparecem para cobrar as pessoas que ainda devem parcelas, isso eles fazem, mas as responsabilidades em relação a tudo que eles fizeram, eles se eximem de tudo", explica Josiane.

Insegurança

Ainda que a advogada dos moradores tente um novo recurso, uma decisão publicada pela Justiça na última quarta-feira (14) manteve a decisão de demolir as construções já existentes, o que preocupa ainda mais moradores como o Juraci da Silva, de 67 anos. Aposentado, ele deu a casa em que morava como entrada para adquirir um lote de 5 mil m² no local. "Aonde que eu vou comprar outra casa? Sem dinheiro? Porque o dinheiro que eu tinha, eu investi aqui. Não tenho dinheiro para comprar nada. Se a prefeitura legalizasse para gente, a gente pagava o IPTU, tudo certinho. Pronto. Cada um pagava o seu e ninguém ficava mais irregular", afirmou.


Laudo Técnico

Como o loteamento irregular Recanto Beira Rio faz fundos com a represa da Estação de Captação de Água Bruta do Ribeirão Piray, responsável por 80% da captação de água bruta de Salto, a prefeitura de Salto enviou um documento à prefeitura de Indaiatuba, cujo anexo continha um laudo relatando uma vistoria, acontecida na manhã de 6 de janeiro de 2021, por uma equipe da Secretaria do Meio Ambiente e do SAAE para verificar o entorno da represa do Ribeirão Piraí. Num dos itens, o laudo é bem explícito:

"O Ribeirão Piraí é o principal manancial de abastecimento do município de Salto e o município de Indaiatuba também faz a captação de água para abastecimento público neste Ribeirão. É sabido que um manancial de abastecimento deve produzir água em quantidade e qualidade para que possa ser disponibilizado para a população e um dos fatores que favorece a preservação das propriedades físico-químicas da água é a presença da mata ciliar no entorno do curso d"água. Em vistoria constatou-se que a mata ciliar da represa de captação que está no município de Indaiatuba está sem proteção, com a presença de gramíneas e algumas intervenções irregulares como presença de casas de alvenaria, benfeitorias e estacas com a demarcação de lotes. Lembrando que de acordo com o Art. 13, inciso XI, alínea c, do Plano Diretor Municipal de Salto (Lei Municipal nº 3.783/2019) é necessária uma Área de Preservação Permanente em faixa mínima de 50 metros lineares no entorno do Ribeirão Piraí."


A própria prefeitura de Indaiatuba, em cujo território fica a área, colocou uma placa com os dizeres "LOTEAMENTO CLANDESTINO - PROIBIDO A COMERCIALIZAÇÃO DE LOTES OBRAS EMBARGADAS", mas o que se percebe visitando o local, são vários lotes demarcados; alguns vazios outros com casas de alvenaria já construídas; algumas obras em andamento e moradores já estabelecidos no local.

O fato do loteamento às margens da represa do ribeirão Piray, isso certamente representa um risco para a cidade de Salto. Visitando o local, percebe-se visivelmente o desmatamento da mata ciliar à beira do ribeirão Piray, o que pode contribuir para o assoreamento da represa com o passar do tempo. Com o aumento do número de moradores, a tendência é que o esgoto das moradias - hoje fossas rudimentares - contamine os lençóis freáticos e, por conseqüência, carreadas para a represa. Isso poderá prejudicar a qualidade da água que hoje - e também no futuro - é disponibilizada para Salto e Indaiatuba.


Outras irregularidades do loteamento:

Outra questão legal é que a propriedade loteada é uma propriedade rural que não poderia ser loteada, senão em lotes únicos de 20.000 m². Em conformidade com o artigo 8º da Lei Federal nº 5.868/72, essa é a fração mínima de parcelamento que a lei permite para desmembramento ou para constituição de um novo imóvel rural. O parcelamento de solo feito pelos loteadores no local constitui-se de lotes com aproximadamente 1.000 m², e isso está em total desacordo com o que é estabelecido pela legislação para os municípios de Salto e Indaiatuba.

Outra agravante que também foi constatada que alguns destes lotes foram subdivididos em uma área imprópria para uso pois estão abaixo do linhão de energia da CPFL e não é permitido a construção de nenhuma edificação em baixo de linhas de alta tensão.

O que diz a prefeitura de Indaiatuba?

Em nota, a Prefeitura de Indaiatuba reafirmou que o loteamento não poderia ter sido feito no local e que, por isso, as famílias devem ser retiradas, o que pode acontecer a qualquer momento. A administração destacou, ainda, que as denuncias tem chegados a eles desde 2019. A prefeitura afirma ter orientado os moradores sobre a irregularidade do terreno em diversos momentos e por isso, a administração de Indaiatuba acredita que os residentes estavam cientes dos riscos de permanecer ou construir no local.

O TERRATAVARES ligou para um dos vendedores, em janeiro de 2021, que ficou de retornar a ligação, mas isso não aconteceu até o momento.

Fonte: EPTV/G1

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