Trem Republicado

UM ORFÃO CHAMADO BRASIL por Cristovam Buarque

Em tempo de tormenta, a âncora é mais importante que bússola e vela.

Por Wellington Caposi em 14/03/2021 às 11:09:26

O Brasil está órfão: sem oxigênio, sem responsável para cuidar do tratamento que precisa. O Brasil não teve um responsável que alertasse para os riscos da Covid-19. Ao contrário, ouviu "não fique em casa", "vá para a rua", "é uma gripezinha" - o oposto do que dizem pai e mãe preocupados com filho. O Brasil não teve um líder que o protegesse da doença e estivesse atento para obter e aplicar a vacina. Qualquer pai ou mãe protege o filho, cuida para ele ficar em casa, usar máscara, álcool em gel, e o leva para tomar a vacina. O Brasil não tem quem cuide dele neste momento em que está sofrendo os horrores de uma epidemia.

O Brasil está órfão. Mas a orfandade é anterior. Foi o Brasil órfão que deu milhões de votos de eleitores descontentes ao atual governante. O Brasil sentia-se abandonado: 12 milhões de analfabetos, 100 milhões sem rede de esgoto, 35 milhões sem água e 12 milhões de desempregados. A periferia das grandes cidades já estava órfã há décadas. Desde a escravidão, a população negra é órfã. Desempregados, vítimas de violência, doentes sem dinheiro, todos são partes do órfão chamado Brasil. O Brasil é órfão por falta das reformas em suas estruturas arcaicas, que persistem desde a escravidão. De todos os erros e crimes cometidos pelos políticos, o mais grave foi não impedir que o Brasil escolhesse o atual governo. E agora cometem erro ainda maior ao não apresentarem aos eleitores uma alternativa que empolgue, que mereça confiança e mais: que impeça a continuação da orfandade atual.

O atual governo aprofunda a orfandade por seu comportamento que nega a ciência, desmoraliza o país no exterior, degrada o meio ambiente, descuida das prioridades do povo, defende o armamentismo e consequente violência, regride no respeito aos direitos humanos, ameaça as conquistas democráticas. O Brasil precisa de líderes que cuidem dele com novas ideias. Para acabar com a orfandade do Brasil, basta adotar uma geração de crianças, de todas as raças, em todos os endereços e de todas as rendas. Esta geração adotada adotaria depois o Brasil com competência e ética. É preciso barrar a marcha ao desastre de mais quatro anos dessa orfandade desastrosa. Para isso, os que desejam um novo rumo precisam entender que a hora é de coesão. Em tempo de tormenta, a âncora é mais importante que a bússola e a vela.

Precisamos unir os democratas, já no primeiro turno de 2022, com um candidato que transmita ao eleitor a capacidade de unir e manter as conquistas democráticas e presidir o debate dos candidatos que em 2026 apontarão suas propostas para o eleitor escolher o rumo que o Brasil deve seguir em direção ao futuro democrático, eficiente, justo, sustentável.

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CRISTOVAM BUARQUE é professor emérito da Universidade de Brasília, ex-senador da República e escreve mensalmente para o TERRATAVARES.

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