Trem Republicado

Deixar a escola em plena juventude não é uma coisa rara no Brasil

Para 18% dos jovens de 16 a 24 anos, a razão para não estudar é a gravidez ou o nascimento de uma criança.

Por Wellington Caposi em 26/05/2023 às 11:19:46

Uma pesquisa realizada pelo Sesi/Senai (Serviço Social da Indústria/Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), em parceria com o Instituto FSB Pesquisa mostra que apenas 15% dos jovens com idade acima dos 16 anos, continuam em salas de aula.

"Os dados são fortes. Só 15% da população atualmente estuda. É claro que, na idade escolar, o número sobe para 53%", afirmou o diretor-geral do Senai e diretor-superintendente do Sesi, Rafael Lucchesi. Das pessoas que não estudam, 57% afirmam que abandonaram a sala de aula porque não tinham condições. A necessidade de trabalhar é o principal motivo (47%) para interrupção dos estudos. "Um número muito alto de pessoas deixa de estudar por falta de interesse na escola que, muitas vezes, não tem elementos de atratividade para os jovens e certamente esses números se agravaram durante a pandemia", afirmou Lucchesi. O levantamento mostra ainda que apenas 38% das pessoas com mais de 16 anos de idade que atualmente não estudam, alcançaram a escolaridade que gostariam.

Exemplo disso é Maria de Fátima Santos. Quando deixou Araioses, no Maranhão, de ônibus e percorreu mais de 2 mil quilômetros até Brasília, em 2017, então com 18 anos de idade, sonhava engatar em uma profissão no comércio e voltar aos estudos. Aos 15 anos, Maria de Fátima tinha abandonado a escola, no 5º ano fundamental, para ajudar em casa. Ela trabalhava no interior maranhense como diarista e os livros não tinham espaço, nem eram prioridade na rotina dessa jovem. Hoje, em Brasília, a escola é apenas um sonho distante. Atualmente, perto de completar 25 anos, Maria de Fátima vive da coleta seletiva de objetos no lixo de condomínios para pagar o aluguel, conseguir sobreviver e ainda enviar ao menos R$ 50 reais para a mãe, que ficou em Araioses. Da escola, diz que sente falta das aulas de matemática. "Eu gostava e iria me ajudar na minha vida hoje."

Para 18% dos jovens de 16 a 24 anos, a razão para deixar de estudar é a gravidez ou o nascimento de uma criança. A evasão escolar por gravidez ou pela chegada de um filho é anda maior entre mulheres (13%), moradores do Nordeste (14%) e das capitais (14%) - o dobro da média nacional, de 7%. O levantamento ainda revela que a maioria dos jovens acima dos 16 anos de idade considera que a maioria dos que têm ensino médio ou ensino superior é despreparada para o mercado de trabalho.

O levantamento foi realizado com uma amostra de 2 mil cidadãos com idade a partir de 16 anos, em todos os estados brasileiros, com entrevistas entre 8 e 12 de dezembro de 2022. Entre os que responderam a pesquisa, 23% disseram que a alfabetização deveria ser prioridade para qualquer governo, seja ele estadual e/ou municipal, seguido pela instituição de creches (16%) e por uma maior ênfase no ensino médio (15%).

A Educação Pública é vista como boa ou ótima por apenas 30% da população, índice que sobe para 50% quando se adiciona a Educação Privada. Pelo menos 23% das pessoas ouvidas na pesquisa avaliaram a Educação Pública como ruim ou péssima . Entre os fatores para aumentar a qualidade da Educação, os mais citados são mais capacitação, um melhor salário para os professores e melhores condições físicas das escolas.

Para Rafael Lucchesi, a pesquisa traz uma dura reflexão sobre a necessidade de aumentar a qualidade da Educação e também a atratividade da escola e "como resultado geral, melhorar a produtividade das pessoas na sociedade".

Comunicar erro
Fale conosco

Comentários

TT003