Trem Republicado

Situação da Nardelli preocupa, mas alternativas existem e se nada for feito ela pode parar

Os funcionários já foram comunicados que o ticket refeição não irá cair este mês e pagamento do vale ainda é dúvida. Motoristas planejam greve após o dia 24 de fevereiro

Por Wellington Caposi em 12/02/2021 às 13:03:29

Um dos assuntos mais polêmicos da semana é a questão da proposta de reequilíbrio financeiro solicitado pela empresa Auto Ônibus Nardelli que operacionaliza o transporte público em Salto. Aqui é necessário uma reflexão e uma discussão séria a respeito do tema. Discutir e esbravejar nas redes sociais não é e nunca foi o caminho, assim como a 'fuga' de alguns vereadores durante o debate aberto relalizado na Câmara de Vereadores em nada acrescentou. Existe uma questão legal em jogo: antes de 2018, da famosa licitação conduzida na gestão Geraldo Garcia, o contrato sempre foi sendo renovado junto a empresa, mas a partir de então só nos cabe julgar, avaliar, rever, repensar o que está descrito na licitação proposta pelo executivo da época, no que está no contrato vigente ainda por 8 anos. Os que estão esbravejando hoje tanto na Câma como nas redes sociais, apoiavam a antiga gestão e muitas das vezes foram até o empresário solicitar recursos para suas campanhas ou também ajuda para seu reduto eleitoral.

A gestão Laerte Sonsim Jr. e Edemilson Santos assumiram a cidade em meio a uma pandemia que afeta a Saúde e a economia local. Sabiam dos problemas da cidade e tem agora em suas mãos a oportunidade de solucionar. Mas o viés político de quem espera uma solução milagrosa e foi complacente com esta situação por 16 anos, agora com 42 dias resolveu se incomodar e também incomodar. Se nada for feito com relação a empresa Nardelli, o serviço certamente irá parar. E ficará fácil para quem possui veículo próprio dar os parabéns, defendendo que a empresa merece mesmo se ferrar, mas ao cidadão que precisa do transporte público restará um imenso problema a resolver. Durante anos, aqui em Salto, nenhum governo que passou teve um setor específico que cuidasse e planejasse o transporte na cidade. Com isso, ele foi virando um puxadinho. Abria um bairro novo ali, esticava a linha até lá e hoje temos o absurdo de um transporte coletivo que possui linhas que levam quase duas horas para fazer o trajeto completo. Isso não existe. No modal atual de 'a única forma de receita da empresa ser a tarifa', quando um bairro novo nasce, o transporte público não vai chegar de repente. E não vai chega até haver demanda. Um ou dois passageiros não configuram demanda sustentável.

A empresa está na cidade há mais de 50 anos e todos nós sabemos que ela ganhou muito dinheiro, sendo a única empresa a realizar o serviço na cidade. Mas temos também que levar em conta que nenhuma outra cidade da região ou do tamanho de Salto - com exceção da região metropolitana de São Paulo - possui mais de uma empresa de transporte coletivo em seu território. Alguns preferem dar o nome disso de monopólio, mas o correto é viabilidade econômica e financeira. Duas, três empresas numa cidade do tamanho de Salto não iriam despertar uma concorrência como muitos alegam, até porque o valor da tarifa não é determinado pela empresa, mas sim pelo poder público. Se fosse o contrário, essas mesmas empresas juntas poderiam montar um cartel e determinar uma tarifa alta. Daí teríamos de reclamar de três empresas e não apenas uma.

É necessária uma reflexão para aqueles que precisam utilizar o transporte público. Muitas pessoas discutem este tema sem nunca ter utilizado do serviço. E a palavra público traz consigo uma responsabilidade e uma dificuldade, pois é um serviço essencial à sociedade, seja para sua economia, seja para a saúde das pessoas. E aqui, estamos falando em pagar apenas com a receita da tarifa. Ou seja, ao invés da sociedade pagar por um serviço que a ela serve, apenas pagam por ele, apenas aqueles que utilizam o serviço, o que é socialmente, é injusto.

Afinal de contas, se a cidade não sobrevive sem transporte, por que não contribuir para sua sobrevivência, em níveis de qualidade e confiabilidade que atendam à maioria de seus habitantes?

Há alternativas. Peguemos como exemplo da cidade de Maricá, no Rio de Janeiro, que possui 150 mil habitantes e há mais de dez anos começou um trabalho para implementar a tarifa zero na cidade. Num acordo entre executivo, concessionária e iniciativa privada, mensalmente um valor de R$ 39,00, abaixo do que uma empresa ou comércio pagaria de vale transporte por cada funcionário é pago para um Fundo Municipal do Transporte Público. Ao final de cada mês, fecha a contabilidade com a concessionária de transporte público e faz o pagamento pelo serviço prestado. Neste caso, cria-se um subsídio que permite a tarifa zero de acontecer e toda a sociedade é beneficiada.

Vejamos então: Salto possui 31 mil trabalhadores e ao considerarmos o vale transporte como benefício concedido a maioria desses, que mensalmente gira em torno, entre ida e volta por funcionário, o valor de R$ 182 reais considerando o valor atual da passagem dem R$ 3,80. Com boa vontade, ao invés do pagamento do vale transporte diretamente ao funcionário existisse um repasse de R$ 49,00 por funcionário a um fundo municipal e que através de um departamento de gerenciamento do transporte público - que iria determinar rotas, horários e tudo mais -, chegaríamos mensalmente, considerando 25 mil trabalhadores, a um valor de R$ 1,2 milhões de reais. O que permitiria a Salto implantar a tarifa zero no transporte público.

Este é apenas um dos caminhos possíveis. Atualmente dos serviços essências na cidade, por exemplo a saúde, a coleta e destinação do lixo são há muito tempo administrados por concessionárias e que sempre, de algum modo, tratam de reequilíbrio financeiro junto ao governo municipal. Recentemente o IBDAH, que cuida da gestão do Hospital Municipal Nossa Senhora do Monte Serrat, teve um reajuste no valor mensal do serviço que presta de mais de 40%, e a população de modo geral, apesar do péssimo serviço que presta, não se empolga tanto com esta questão financeira. Quando falamos em concessão, pelo fato de sermos uma cidade pequena, tudo fica muito próximo e ainda temos a oportunidade de reclamar, de falar com os propietários e de encontrá-los pela cidade e buscar ajustes finos no serviço prestado. Existe ainda a questão da responsabilidade social traduzida em forma de empregos na cidade.

Uma empresa que vem de um outro estado atuar em Salto, não sabe nada da nossa história, das nossas tradições, do nosso povo e seu vínculo com a cidade por diversas vezes fica apenas no discurso e nos valores que recebe.

Prezado leitor, tenta descobrir quem é o proprietário do IBDAH e tentar falar com ele para ver se é possível?

Cabe então, a todos os envolvidos uma necessária discussão séria, sem amadorismo e nem politicagem a respeito desse tema. Salto merece isso...

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