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Para especialista, segurança é muito mais do que apenas criar barreiras à escola

Colocar um policial militar ou um guarda civil municipal na porta das escolas pode minimizar, mas não vai resolver o problema.

Por Wellington Caposi em 13/04/2023 às 14:06:13

Na entrada da escola, barreiras. Nas cercanias, guardas civis municipais e policiais por todos os lados. Botões escondidos de pedidos de socorro. Quais são, afinal, as medidas mais adequadas como prevenção à violência em unidades de ensino?

Para especialistas no tema, as soluções principais para temores de ameaças não estão em medidas paliativas. Katia Dantas, consultora para implementação de proteção infantil em ambientes escolares, a violência que tem ocorrido em unidades de ensino é multifacetada e bastante complexa. Ela entende que desigualdades marcantes nos ambientes escolares contextualizam essa violência: "Há muito a ser feito em busca de um ambiente minimamente em condições de garantir segurança e paz, tranquilidade e solidariedade dentro do espaço da escola e fora dela".

Katia Dantas ainda defende uma série de medidas, considerando que grande parte desses atentados tem foco em violência sistemática na vida da pessoa que agride, como histórico de bullyng, intimidações e abusos familiares. É difícil que alguém com essa característica não tenha demonstrado sinais na escola.

"É urgente que as escolas aprendam a identificar um abuso. A gente precisa começar a modificar essa percepção. Hoje, por exemplo, nós sabemos que as habilidades socioemocionais partem da base curricular nacional. Mas pouquíssimos pais sabem exigir das escolas", diz Katia Dantas. A parceria entre família e escola não deve ficar apenas na teoria, uma vez que as redes sociais e os jogos eletrônicos têm ocupado espaço central na vida de crianças e adolescentes.

Também por esse motivo, é fundamental fortalecer a participação social, a gestão democrática, a participação de pais, mães, responsáveis, e grupos organizados da comunidade onde a escola está inserida. "Todos devem estar envolvidos no processo de discussão, no Conselho Escolar, de um projeto político-pedagógico para escola. A participação social e o envolvimento com as políticas da escola, o sentimento de pertencimento, tudo é importante".

A especialista ainda entende que é vital que professores e outros funcionários do ambiente escolar possam receber orientações em caso de violência. "Que eles aprendam a saber o que fazer do mesmo jeito que muitas escolas têm treinamento para incêndio, evacuação, por exemplo". Mas um treinamento com característica pedagógica sem criar medo, pânico ou alarde nas crianças. "Mais do que isso, os profissionais precisam estar treinados em como identificar situações de conflito, mudanças de comportamento que possam estar demonstrando um sofrimento dessa criança. É importantíssimo que todos os profissionais da escola estejam treinados para fazer a proteção infantil e identificar essas situações".

Todos os profissionais que atuam na educação têm que ser qualificados e receber cursos para as suas atividades. "Porteiro tem que ter curso de infraestrutura e meio ambiente. Temos que ter uma formação inicial voltada para as concepções de educação". Isso inclui saber olhar para algum sinal de que há algo de errado.

"Os profissionais devem ter sim formação em atendimento e primeiros socorros, atenção, perceber o olhar dos alunos". Todas as escolas, por exemplo, deveriam ter acesso às equipes de psicólogos e de outros profissionais de apoio. Katia acredita que a segurança começa com a possibilidade que profissionais estejam conectados à complexidade dos seres humanos.

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