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Esgoto, fertilizantes e aguapés decretando a morte do rio Tietê - por Claudiney Bravo

Por Wellington Caposi em 20/02/2023 às 23:08:21

O rio Tietê nasce no município de Salesópolis e tem drenagem endorreica - isto é, não para o mar, a poucos quilometros de sua nascente. No sentido inverso, percorre 62 municípios paulistas e deságua no rio Paraná, no município de Itapura, na divisa com o Mato Grosso do Sul. É conhecido, acima de tudo, como um rio poluído. Essa infâmia tem fundamento. Não é incomum ver notícias sobre a situação insalubre do rio, como o recente caso de nossa cidade, quando o rio ficou coberto por uma espuma tóxica.

Uma notícia, no entanto, chama a atenção: Uma grande quantidade de aguapés formou um "tapete verde" e tomou a parte de cima da barragem da hidrelétrica de Barra Bonita. A represa é uma das maiores do estado de São Paulo com 310 quilômetros quadrados de lâmina d"água. Por conta das algas, os passeios de eclusa, que costumam sair todos os dias, chegaram interrompidos no final de semana. As embarcações que transportam turistas tiveram dificuldade para continuar o trajeto.


Com as chuvas varrendo para suas águas, os fertilizantes das lavouras, predominantemente derivados do vinhoto da cana de açúcar, criou-se condições perfeitas para o aumento de aguapés e algas num longo trecho do rio. Sem praticamente matas ciliares, outro grave problema tem têm ajudado a mudar a paisagem do Rio Tietê no interior paulista. O esgoto sem tratamento é outro problema agravante.

O excesso de nutrientes na água ajuda a proliferação e pouco há o que fazer, sobretudo porque não há recurso nos municípios para a operação logística de retirada dessas plantas, enquanto o tempo chuvoso também não ajuda. O problema também se espalha para a maioria de seus afluentes e se repete em toda a sua extensão, com mais intensidade no trecho paulista, dos seus mais de 1150 quilômetros. Isso não afeta apenas a vida dos cidadãos, mas uma grande variedade de seres vivos, que também enfrentam as conseqüências da poluição que é, em grande parte, culpa dos próprios humanos.

De Tietê até Pederneiras, de Barra Bonita até Araçatuba; já é possível ver um imenso tapete verde, prejudicando a pesca, o turismo e até com risco de ocasionar problemas nas hidrelétricas e no abastecimento de água de algumas cidades.

Atualmente, aqui em Salto, o Tietê é considerado um rio morto. Segundo relatórios da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), o nível de oxigênio encontrado em suas águas é próximo a zero. Quando se abre o extrator de fundo (túnel) da PCH Pirapora do Bom Jesus (represa que controla enchentes da grande São Paulo e ainda produz energia), o que sobra para nossa cidade não passa de um lodo escuro e tóxico (mistura de esgoto industrial e doméstico), que solta um cheiro insuportável. E isso segue rio abaixo.


E tudo tem início na Grande São Paulo. O rio Tietê, como os fundos do palacete, ameaça hoje a fragilidade de fachada. Como uma casa cujos proprietários ampliaram e embelezaram sua frente, reformando a fachada, mas não se preocupando com a latrina e o fundo. Tudo de ruim era despejado lá. Virou um enorme palacete assentado sobre o esgoto e fedentina. Talvez o custo de sua recuperação seja infinitamente maior que o lucro obtido pelo seu assassinato. Mas, não existe outra saída.

Quando um governante fala para uma emissora de TV que daqui a 30 anos o Tietê estará bem melhor do que hoje, é necessário refletir que o problema do Tietê é apenas político. Ou melhor, de vontade política. Se os governantes a tivessem, a poluição do nosso rio se resolveria com muito mais facilidade.


A continuar nesse ritmo desenfreado, em pouco tempo a mancha escura que tinge o rio - vez por outra, aqui em Salto - com um tom escuro, chegará a Itapura, em sua foz... E daí, começara a poluir o rio Paraná.

Os aguapés e algas são apenas o prenúncio dessa tragédia.

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CLAUDINEY BRAVO, designer gráfico, produtor de eventos culturais e editor do TERRATAVARES.

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