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Polícia Militar tem o menor efetivo do século. Gestão Tarcísio de Freitas busca plano emergencial para contrata mais efetivo

Em 2006, o efetivo era de 229 policiais militares para 100 mil habitantes. Hoje esse número caiu para 177 policiais. Uma redução de 22,7%.

Por Wellington Caposi em 06/01/2023 às 14:16:51

A Polícia Militar de São Paulo registrou até dezembro de 2022, o menor efetivo deste século, com 80.137 homens e mulheres, o que representa uma redução superior a 10 mil agentes do quadro existente em 2006. A situação é considerada tão crítica que o novo secretário da Segurança Pública, o PM da reserva Guilherme Derrite, após conversa com a cúpula da corporação no início desta semana, anunciou a elaboração de um plano emergencial para tentar recompor o efetivo das polícias no estado de São Paulo.

"Nós estamos passando e vamos passar pela maior crise de efetivo. A PM de SP, que já chegou a ter quase 100 mil homens, vai chegar a 80 mil, sendo que a população não parou de crescer, pelo contrário, aumentou demasiadamente", disse Derrite nesta quarta-feira, 4.

O maior efetivo da corporação foi registrado em 2006, quando ela chegou a ter 90.697 PMs em seus quadros, incluindo o Corpo de Bombeiros. Naquele ano, quando criminosos do PCC atacaram as forças de segurança paulistas, o estado tinha uma população estimada em 39.620.277 pessoas, segundo dados do Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados). Agora em 2022, essa população foi estimada em 45.147.891 pessoas. Com isso, o estado de São Paulo que teve, há 16 anos, um efetivo de 229 policiais militares a cada grupo de 100 mil habitantes, passou a ter no mês passado 177 agentes por 100 mil - uma queda proporcional de 22,7% no policiamento. O menor efetivo da PM antes de dezembro passado foi em 1996, nos anos iniciais do governo Mário Covas, com 77.374 agentes. Naquele ano, mesmo assim, proporcionalmente, o estado tinha 227 PMs para cada grupo de 100 mil habitantes.

Um dos motivos para essa situação atual da PM é a dificuldade dela em preencher todas as vagas as ofertadas nos concursos para contratação de novos soldados. Em 2021, por exemplo, das 2.700 vagas oferecidas, só 1.348 foram ocupadas por candidatos aprovados em processo seletivo. Os baixos salários são apontados com um dos fatores. Atualmente, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, um soldado da PM paulista recebe em média R$ 5.460,93 brutos. Em Goiás, em comparação, os soldados recebem em média R$ 9.381,74.

Rafael Alcadipani, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas), afirma que a situação da PM tende a se agravar nos próximos anos porque a profissão policial militar não é atrativa, não só pelos baixos salários oferecidos, mas pela própria imagem.

"A imagem é bastante negativa, de violência, de truculência, não é uma imagem que atrai as pessoas a trabalharem na instituição, infelizmente. Isso é uma coisa que não vai mudar rapidamente, não tem mágica para ser feita, e a gente vai ter um problema de efetivo expressivo nos próximos anos. A tendência é piorar", afirmou ele, que diz ver um quadro de melhora com o atual governo.

Conforme dados da Adpesp (Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo), a Polícia Civil tinha, em 2011, 34.684 agentes, incluindo as equipes da Polícia Científica. No final de 2022, esse número de policiais caiu para 26.355 - uma queda de 24%, em números absolutos. Para Guaracy Mingardi, analista criminal e membro do Fórum de Segurança Pública, é grave a situação da Polícia Civil que, para ele, praticamente abdicou de seu papel de investigar.

"Praticamente não sai das delegacias. Aqui em São Paulo, os distritos fazem o flagrante, atuam em um ou outro caso, normalmente de autoria conhecida. Então, na prática, tocam o inquérito de autoria conhecida. Os de autoria desconhecida, quem investiga são os departamentos como DHPP [homicídios] e Deic [crime organizado]. A Polícia Civil nos distritos está acabando: burocrática, envelhecida e com falta de efetivo."

O presidente da Adpesp, Gustavo Mesquita Galvão Bueno, disse que o elevado déficit da Polícia Civil é uma herança dos 30 anos de governos que, segundo ele, "sempre trataram a instituição com descaso. Ainda mais importante que planejar a reposição dos cargos vagos é a valorização salarial dos policiais civis, para que a porta de saída da instituição deixe de ser mais atrativa que a porta de entrada."

De acordo com a Secretaria da Segurança do estado de São Paulo, de 2011 a 2022, foram contratados 40.487 novos policiais militares, 8.395 policiais civis e 2.043 policiais técnico-científicos.

Fonte: Folha de S.Paulo

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