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Os 110 anos de uma vila operária

O historiador Mercelo Botosso defende o tombamento da Vila da Barra, se não na sua totalidade ao menos parte do que ainda ela tem de preservado.

Por Wellington Caposi em 30/12/2022 às 16:47:40

No ano de 2017 ocorreu uma extensa programação de atividades culturais para celebrar o centenário de fundação da Vila Maria Zélia no bairro Belenzinho, Zona Leste da capital paulista. Criada em 1917 para abrigar às famílias de aproximadamente 2100 funcionários, a vila era de propriedade da Companhia Nacional de Tecidos de Juta, idealizada pelo industrial Jorge Street e projetada pelo arquiteto francês Paul Pedraurrieux. Foram cinco anos de obras que dariam forma a um complexo residencial incluindo desde escolas, salão de baile, restaurante, campo de futebol e até uma capela. Contrastando com o seu entorno de precários cortiços, a vila operária ficou poucos anos nas mãos de seu fundador que se desfez de tudo para quitar dívidas. Em 1992, o local foi tombado pelos Conselhos de Preservação do Patrimônio Histórico de São Paulo (Conpresp) e de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat).

Porém, o que pouca gente sabe é que apesar da Maria Zélia ser considerada a primeira vila do gênero, aqui em Salto, 100 km da capital, há uma vila ainda mais antiga conforme os dados que foram confrontados pelo historiador Marcelo Botosso. Conhecida como Vila da Barra, ela foi construída nos anos de 1911 e 1912, como foi publicado em entrevista com o historiador pelo Jornal Estância, edição 745 de 23 de setembro de 2016. Localizada na confluência dos rios Jundiaí e Tietê e ainda permanece com algumas de suas características iniciais. Bem mais modesta que a sua irmã paulistana, a Barra foi edificada para abrigar os operários da Indústria Ítalo-Americana compondo 30 casas de um quadrilátero que é cortado por um corredor central.


Segundo Marcelo, a existência de uma vila operária tão precoce em Salto aponta o pioneirismo industrial da cidade em relação à tardia industrialização do Brasil. Além de ser um produto que pode despertar o interesse turístico desde que bem trabalhado, a vila traz uma carga simbólica fundamental para a memória e identidade saltense narrando a própria formação da cidade e sua população de origem operária.

"Portanto urge o tombamento da Vila da Barra, se não toda ao menos parte do que ainda ela tem de preservada", alerta o historiador Marcelo Botosso.

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