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Tiquira: a bebida ancestral brasileira que está ganhando espaço nas prateleiras

Os maranhenses mais conservadores dizem que a Tiquira é a verdadeira aguardente brasileira, já que a mandioca é genuinamente nacional.

Por Wellington Caposi em 23/09/2022 às 19:17:25

Brasil é conhecido como o país da cachaça, mas deixamos de lado algumas raridades para fortalecer a imagem da aguardente de cana. E não deve ser assim. Você já ouviu falar da Tiquira? Classificada como aguardente é tradição nas principais rodas de Bumba Meu Boi no interior do Maranhão. 100% brasileira, a iguaria é feita a base de mandioca e está cada vez mais agradando o paladar dos brasileiros e até mesmo do mundo. Ela é uma das bebidas mais antigas e mais originais do país. Ela é transparente em sua versão natural e possui um sabor definido por alguns como sendo algo entre a grapa e o poirè (um tipo de licor de pêra). Apesar de ser bastante apreciada nas regiões em que foi primeiramente criada, sua fama já se espalha por todo o território brasileiro, sendo vendida em todas as regiões do país.

O nome Tiquira possui dois possíveis significados. De acordo com Stradelli, tiquira é a palavra nheengatu que significa "destilado obtido a pingos, através do beiju de mandioca fermentada". Já para Anchieta, tiquira deriva da língua indígena tupi, 'a gota', por fazer referência ao gotejar do líquido durante a destilação. O que se sabe é que antes da chegada dos portugueses, os índios brasileiros ja bebiam um fermentado de mandioca chamado cauim, também conhecido como chicha de yuka e massato pelos povos amazônicos antigos. De acordo com o relato de Hans Staden no livro Duas viagens ao Brasil, apos o cozimento em grandes panelas, as mulheres mascavam a mandioca, triturando-a com os dentes e enrolando-a no céu da boca para depois cuspirem num recipiente de barro com agua. Aquela mistura fermentava com a ajuda das bactérias presentes na saliva, resultando numa bebida turva, espessa e com o gosto semelhante ao soro de leite. O cauim era consumido por homens e mulheres durante as festas na tribo, alem de fazer parte do ritual canibal antes dos grandes banquetes. Com a chegada dos europeus, vieram os alambiques, e o fermentado cauim que, após a destilação, virou a aguardente Tiquira.


Produzido em diversas cidades do Maranhão, sendo também bastante popular também em Tiangua, no Ceará. Originalmente incolor, alguns produtores adicionam folhas ou flores de tangerina durante o processo de destilação, resultando numa cor azulada que tende a clarear com o tempo. Infelizmente o Ministério da Agricultura não reconhece essa prática na destilação - com a tangerina -, portanto, as marcas de Tiquira, hoje formalizadas não têm esse lindo toque azulado. Outros produtores informais adicionam ainda um corante chamado "cristal violeta" - violeta de metila - que garante um vivido azul-arroxeado a bebida.

Para os maranhenses mais conservadores a Tiquira e a verdadeira aguardente brasileira, ja que a mandioca e genuinamente nacional. No Brasil, entre as bebidas destiladas da mandioca, apenas a Tiquira tem legislação própria. Ela deve ser obtida a partir da destilação do mosto fermentado de mandioca e possuir teor alcoólico entre 38 e 54%. Para fortalecer essa identidade e proteger esse patrimônio, os produtores do Maranhão estão em busca de uma indicação geográfica reconhecida pelo INPI. A motivação é justamente reconhecer os costumes e culturas do Brasil.

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