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Córrego do Ajudante: criticamos as outras cidades, mas não fazemos a lição de casa.

A afirmação acima veio do ex-secretário do Meio Ambiente. Várias argumentações vem sempre na direção de que parte do problema é da própria população, quando não se vê ações específicas sobre Educação Ambiental.

Por Wellington Caposi em 20/07/2022 às 12:36:09

Em 5 de março de 2019, grandes blocos de espuma branca cobriram o Córrego do Ajudante, afluente do Rio Tietê, que extravasaram e cobriram o gramado e arbustos do entorno da ponte existente na Avenida Getúlio Vargas. Moradores relataram na época o mau cheiro ocasionado e servidores da prefeitura usaram caminhões-pipa precisaram lançar água para a diluição da espuma. Técnicos estiveram no local e apuraram que a grande quantidade de espuma foi causada pelo lançamento no manancial de produtos usados na fabricação de sabão em pó. O córrego estava com bom volume de água em razão das chuvas e o turbilhonamento causou a formação da espuma. Parte do material armazenado no pátio de uma empresa de sabão em pó, resíduos de detergentes e outros produtos, com as chuvas, foram levados para o córrego.

A Cetesb informou que a empresa foi autuada pelo dano ambiental mas não informou a extensão dos danos nem o valor da multa. Na época, o então vereador Edemilson Santos disse na Tribuna Livre da Câmara de Vereadores de Salto: "O aparecimento de espumas tem sido constante, e muitas cobranças têm sido feitas ao Executivo, porém sem nenhuma preocupação de solucionar ou investigar o problema, inclusive pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente. O aparecimento de espumas e chamou atenção da população a solicitação de pedidos de providências. Esse leito vem sendo prejudicado há mais de 10 anos com despejos irregulares, e mesmo com as denúncias nos devidos órgãos, entre Cetesb e Secretaria de Meio Ambiente, providências não são tomadas".


O ex-secretário do Meio Ambiente, engenheiro Oswaldo Dalla Vecchia, na coletiva de imprensa do Movimento "Todos pelo Tietê" - em sua última aparição pública como secretário - alertou aos presentes com uma observação: A Estância Turística de Salto clama pela atenção das cidades rio acima, por estas contribuem com a poluição ao Tietê, mas nossa cidade não faz a "lição de casa". Certamente ele se referiu ao Córrego do Ajudante, um afluente do rio Tietê que nasce em Salto e tem sua foz também dentro dos limites da cidade. Ou seja, para limpar e cuidar do Córrego do Ajudante não dependemos de ninguém a não ser de nós mesmos. Ou seja, de políticas públicas concretas e palpáveis. Ve-se somente obras e intervenções pontuais como limpeza e plantio de mudas. A última intervenção feita pela secretaria do Meio Ambiente, no córrego, foi em agosto de 2019, no entorno da rodoviária, com limpeza do local e aparação da grama. Alguma coisa como "limpar apenas onde o padre passa".


Na Secretaria Municipal do Meio Ambiente não existe projeto para recuperação total do Córrego do Ajudante. A recuperação do córrego faz parte do plano de governo, mas o discurso vem sempre na direção de que parte da culpa é da própria população, mas não vemos ações específicas voltadas ao córrego sobre Educação Ambiental, especificamente aos moradores residentes nas imediações. Consultamos também o SAAE Salto e a resposta praticamente veio na mesma direção. "Não temos nenhum projeto e nem verba para tanto". Tudo isso mostra o terrível engessamento administrativo do Poder Público para a resolução imediata de problemas da cidade, que não são poucos. Uma coisa é a iniciativa privada, outra é o Poder Público.

Outro exemplo real de desinformação é quando se lançou o empreendimento "Jardim dos Taperás" - um belo conjunto de edifícios que fica nas imediações do Córrego do Ajudante, na proposta de venda de apartamentos para os consumidores, havia uma promessa de revitalização de parte do trecho do manancial, ao menos aquele que fica ao lado do empreendimento. Essa revitalização nunca saiu do papel e se saiu, ninguém fala no assunto e sobre quais os motivos dela ainda não ser realizada. Haveria entraves burocráticos? Não se sabe. A prefeitura também nunca se posicionou publicamente sobre a cobrança desse detalhe da obra aos empreendedores. De quem foi a falha? Do empreendedor que não fez ou da prefeitura que não cobrou? Ou do córrego, que por uma questão geológica estava ali?

Vale a pena salientar que o Córrego do Ajudante já foi tema de um belo Trabalho de Conclusão de Curso, há quatro anos, pela hoje arquiteta Betina Araújo, que pode ser conferido AQUI.

Pena que ninguém se interessou em transferir a idéia desse belo trabalho para a prática de nossa realidade.

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