Trem Republicado

O lado anti social de um rio

Muito se discute sobre a poluição do rio Tietê, mas pouco ou quase nada é feito de fato.

Por Wellington Caposi em 06/07/2022 às 21:49:44

Nesta semana dois eventos chamaram atenção de todos para o rio Tietê. O primeiro foi uma entrevista realizada pelo jornal PRIMEIRAFEIRA com o engenheiro Ismar Ferrari, que versava sobre a poluição que a cidade recebe constantemente pelo rio. A matéria impressa no jornal gerou uma segunda matéria, agora publicada pelo portal TERRATAVARES. O segundo evento foi sobre o movimento "Todos pelo Tietê", através de coletiva de imprensa realizada na tarde desta terça-feira, 5, no auditório da Associação Comercial de Salto com a presença de várias entidades da cidade.

O tema da coletiva foi apresentar propostas e alternativas concretas para a possibilidade de um rio mais limpo para Salto e cidades por onde ele passa. Ou seja, Todos pelo Tietê. A palavra "TIETÊ" é de origem tupi e significa "água verdadeira", com a junção dos termos 'TI' (água) e 'ETÊ' (verdadeiro, grande, fundo, que corre para baixo). Presentes na coletiva o Rotary Clube de Salto (Ruben Osta); Associação Comercial (Vladimir Lara e Paulo Takeyama); OAB Salto; Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Salto (Caio Cesar Oliveira); INEVAT (Francisco Moschini); Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Oswaldo Dalla Vecchia); representantes de empresas e ainda a imprensa da cidade.


Mas, quem hoje observa o degradado Rio Tietê, vê tudo menos água de verdade. Garrafas pet, sacolas plásticas e embalagens diversas são comuns na paisagem de um dos principais cursos d"água do estado de São Paulo. Por dia, 3 bilhões de litros de esgoto e dejetos industriais são lançados no rio na região metropolitana de São Paulo, segundo a Sabesp. Isso dá uma média de 35 mil litros por segundo de sujeira tóxica. Por essa razão, o impacto de toda essa sujeira pode ser sentido aqui em Salto. Anualmente o trecho do Tietê, na cidade, é cenário de tristes imagens, com água tóxica, mortandade de peixes e enchentes em diversos pontos.

Então o que fazer de fato para apresentar algum resultado prático?

O "Todos pelo Tietê" pretende organizar um evento que transcenda os limites de Salto, agora em agosto deste ano, aglutinando também outras cidades que estão sendo prejudicadas pela poluição do rio. A intenção da coletiva de imprensa objetivou o "start-up" para que o evento seja de fato convincente.

Quanto se perde de dinheiro com o rio sujo e poluído?

O médico Claudio Terassaka levantou a hipótese de quanto se gasta na Saúde pública com o tratamento de doenças respiratórias em decorrência da poluição do rio? Quanto será que se perdeu de 1976 até hoje com a "fuga" de turistas que lotavam o extinto Restaurante do Salto? Quanto será que se perdeu de tributos municipais e estaduais devido à falência do turismo na cidade? Com certeza, milhões de reais a cada ano. Nos últimos quarenta anos, a soma dessas perdas gera uma cifra astronômica. Diante dessa hipótese real, vislumbra-se que a única saída seja POLÍTICA e não JURÍDICA. Até porque a opção por uma saída jurídica poderia provocar um contra efeito nos investimentos estaduais na cidade. Como forma de punição.


Como então pleitear alguma ação, se não temos nenhuma força política para tanto?

É exatamente nesse ponto que as entidades organizadoras do "Todos pelo Tietê" estarão focando. Se não acontecer um aglutinamento de pequenas ações regionais que conjuntamente possam resultar num grande movimento político, todo o esforço terá sido em vão.

O TERRATAVARES espera realmente que não seja um evento apenas "falastrão" e "politiqueiro" com tantos que já fizeram do rio Tietê um tema de pura enganação. Um exemplo bem atual foi a inédita iniciativa que prometia a contenção e o monitoramento de uma bela quantidade de lixo despejada no rio Tietê. Foram idealizadas barreiras ecológicas sem nenhum estudo técnico, que faziam parte da ação "Rios Sem Plásticos", instaladas transversalmente no rio, no início de agosto de 2021, com a finalidade de impedir transposição de materiais recicláveis e conter o avanço da poluição. Instaladas pela ONG SOS Mata Atlântica, em parceria com a empresa Ypê, durou muito pouco. Com as primeiras chuvas ocorridas na grande São Paulo, no final de agosto, a lama química que desceu pelo rio rompeu as tais barreiras. Mais um rio de dinheiro, literalmente "jogado" diretamente no rio. Nenhuma explicação como tantas outras que aconteceram nos últimos 30 anos.

Ninguém mais tocou no assunto a não ser o INEVAT, através de uma nota repudiou que instalações desse tipo de barreira: "são medidas de marketing pirotécnico porque apenas simulam a retirada da totalidade do lixo. Pura enganação, uma vez que não impedem a passagem de resíduos emersos, principalmente plásticos, assim como ondas de espumas de sabões e detergentes que cobrem o Tietê".

Tudo para que o rio Tietê possa novamente ser chamado de "rio verdadeiro".

E não pensem que isso acontecerá num piscar de olhos. Será um esforço contínuo que provavelmente demorará anos. O tempo para despoluir o rio será infinitamente superior ao tempo gasto para poluir. Enquanto não acontece, paira a sensação de estarmos sendo enganados a cada ano que passa.

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