Trem Republicado

Engenheiro Ismar Ferrari faz graves alertas sobre o rio Tietê, no Jornal PrimeiraFeira

Quando dizem que a qualidade do rio melhorou é uma mentira deslavada, uma total irresponsabilidade, afirma Ismar.

Por Wellington Caposi em 03/07/2022 às 07:55:58

O primeiro alerta evidente na excelente matéria feita pelo Jornal PrimeiraFeira, é que a Prefeitura de Salto estaria literalmente "jogando dinheiro no rio" ao recuperar a Ilha dos Amores e o Memorial do Tietê. Segundo Ismar disse na entrevista: "A Prefeitura está investindo na recuperação desses locais, mas isso será inútil. Basta uma pessoa ir lá (em Pirapora do Bom Jesus) e abrir as comportas, que o volume de água destruirá tudo. Hoje é inviável utilizar o Memorial do Tietê e a Ilha dos Amores. Não há a menor possibilidade de reaproveitar algum deles".

Sobre o desmoronamento do muro de contenção da rua da Barra, Ismar foi ainda mais categórico: "As pessoas acham que a enchente é do rio Jundiaí, mas não é. É o rio Tietê que sobe e procura vazão no Jundiaí. Ele já destruiu três partes do muro. Uma parte é a que está próximo à praça São João, depois derrubou outra parte junto da ponte, e agora esse na frente da ponte. Isso não é um risco, é uma certeza que se continuar assim pode e vai atingir as casas da Barra. Sou engenheiro e trabalho muito com muros de arrimo. Todo aquele "bolo" vai cair e colocar em risco todas aquelas casas. É uma tragédia certa."

PORQUE ISSO ESTÁ ACONTECENDO?

O início disso tudo aconteceu no ano de 1992, quando o então governo Fleury contratou uma empresa para projetar um túnel para servir de extravasor na barragem de Pirapora. O que então seria esse túnel extravasor?

Literalmente é uma galeria subterrânea - confira o tamanho pela foto acima (feita na época da sua construção) - construída a partir do fundo de uma represa que, quando acionada, desvia a água represada com uma maior velocidade de escoamento. Em Pirapora, a dimensão dessa galeria é que permite o aumento da vazão na calha do rio. Em Salto, a calha do rio Tietê - que não sofre um desassoreamento há mais de 40 anos - está limitada à uma vazão máxima de 500 metros cúbicos por segundo. Assim, quando é aberto o extravasor de fundo da represa de Pirapora, a vazão do rio pode atingir até 2 mil metros cúbicos por segundo. Ou seja, uma vazão quatro vezes maior do que a calha do Tietê - aqui em Salto - permite. Segundo Ismar esse teto da vazão possível, ainda não foi atingido, mas é exatamente nesse ponto que começaram os grandes desastres na cidade. Ele também alerta que as prefeituras pouco ou nada fazem porque dependem de recursos dos governos estaduais e federais. A esfera de resoluções sempre termina nas questões políticas.

SOBRE AS "MENTIRAS" FALADAS SOBRE O RIO:

Segundo Ismar Ferrari, o movimento SOS MATA ATLÂNTICA foi criado na mesma época em que foi criado o INEVAT. Ambos com o objetivo de defender os interesses do Rio Tietê. Mas com a saída do Fábio Feldman, a SOS MATA ATLÂNTICA não tem nenhum interesse e/ou compromisso com o Meio Ambiente. É um grupo que está mais preocupado em receber recursos públicos e utilizar a prática do "fake news", dizendo que as águas do rio Tietê estão melhorando. Os estudos apresentados são totalmente falsos.

"Por isso quando dizem que a qualidade do rio melhorou é uma mentira deslavada, uma total irresponsabilidade. Depois que fizeram esse segundo túnel, em 2015, o rio vem preto, porque pega o lodo do fundo do reservatório. Antes a água vinha pela superfície, ficava parada na barragem, recebia a luz solar, oxigênio e tinha até uma pequena melhora na qualidade. Então, quando chegava no interior, você podia nadar, pescar. Mas, desde a construção do primeiro túnel, todos os materiais que ficam segmentados no fundo e todas as porcarias que pode imaginar, como metais pesados, microorganismos anaeróbicos, produtos químicos, e tudo isso está acumulado", afirma Ismar.


Aliado a isso tudo, ainda existe os interesses imobiliários da capital paulista que estão voltados para a marginal do rio Pinheiros. Os empresários imobiliários não queriam o sistema de bombeamento dessas usinas de reversão, em função da poluição e de enchentes na região do rio Pinheiros. Ou seja, em caso de enchentes na capital paulista, toda a água seria direcionada para o interior e não mais para o rio Pinheiros, pois com uma vazão controlada o rio não causaria mau cheiro. O que sentimos aqui eles também sentem lá. Ou talvez, agora, não mais.

Porém, ainda segundo Ismar Ferrari, na gestão do João Dória existia uma grande pressão das imobiliárias para liberar e mudar esse panorama. Eles não querem mais água suja no rio Pinheiros. Foi assim que o governo Doria liberou um dos projetos - de R$ 2 bilhões de reais - para um empreendimento comercial e residencial de alto luxo. E isso a qualquer momento pode ser inaugurado e fechar esse sistema de reversão.

Com isso, se nada for feito de fato, toda a sujeira da capital paulista continuará a ser despejada no rio Tietê. Algum tempo depois, ela estará bem debaixo dos nossos narizes.

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