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Por que a Nasa está explorando as profundezas dos oceanos

Nossos oceanos cobrem mais de 70% da superfície da Terra, e mais de 80% deles permanecem inexplorados. Costuma-se afirmar que sabemos mais sobre a superfície de Marte e da Lua que sobre o leito oceânico do nosso próprio planeta.

Por Wellington Caposi em 22/01/2022 às 11:41:10

A Nasa está em uma missão para mudar isso. A agência espacial norte-americana está explorando as profundezas oceânicas em busca de indicações de qual poderá ser a aparência dos oceanos em outros planetas, a fim de expandir os limites da ciência e da tecnologia em um dos ambientes mais extremos da Terra. É uma missão cheia de maravilhas, perigos e um risco de implosão que não pode ser menosprezado. A esperança é que as descobertas subaquáticas da missão ajudem a desvendar alguns dos mistérios do espaço sideral, além de testar parte do equipamento e os experimentos necessários para missões em outros pontos do Sistema Solar. As profundezas dos oceanos da Terra são surpreendentemente similares a algumas das condições que a Nasa espera encontrar em outros mundos do nosso Sistema Solar. Elas poderão até fornecer indicações sobre os lugares onde os cientistas deverão procurar vida alienígena. As partes mais profundas dos oceanos da Terra são conhecidas como a zona hadal. Seu nome vem de Hades, o deus grego do submundo, e é um lugar hostil que faz jus à denominação. Ela consiste de fossas e canais profundos e se estende até 11 km abaixo da superfície dos oceanos do planeta. Ao todo, ela representa uma área de leito marítimo equivalente ao tamanho da Austrália - e poucos veículos conseguem sobreviver a um mergulho nesse abismo escuro.

É na zona hadal que os cientistas da Nasa, em parceria com o Instituto Oceanográfico Woods Hole (WHOI, na sigla em inglês) de Massachusetts, nos Estados Unidos, estão tentando explorar e sondar os limites da vida na Terra. Até a linguagem empregada pelos cientistas para suas missões naquela região utiliza termos adotados pela exploração espacial. Nos últimos anos, biólogos marinhos enviaram diversos "módulos de aterrissagem" equipados com sensores e câmeras para "aterrissagens acidentadas" sobre o leito da zona Hadal, onde eles fazem medições. Mas os engenheiros do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa no sul da Califórnia, nos Estados Unidos, estão construindo um novo veículo subaquático autônomo chamado Orpheus - o nome em inglês do herói da Grécia antiga que viajou para o submundo e voltou - para mapear as profundezas mais inacessíveis. Utilizando tecnologia de navegação visual similar à da sonda Perseverance da Nasa em Marte, Orpheus possui câmeras altamente sensíveis para identificar formações rochosas, conchas e outras características do leito oceânico e elaborar mapas tridimensionais pontilhados com marcas do terreno — ou melhor, marcas do leito oceânico. Isso permite que o robô encontre seu caminho e reconheça lugares onde já esteve, mas deverá também ajudar a lançar novas luzes sobre a biodiversidade daquele ambiente hostil. "Orpheus é um veículo que serve de portal", afirma Tim Shank, biólogo das profundezas marinhas que está liderando o programa de exploração hadal do WHOI. "Se ele funcionar, não haverá lugar no oceano aonde não possamos ir."

Não é a primeira vez que Shank tenta atingir as profundezas escuras da zona hadal. Em 2014, o veículo predecessor de Orpheus - Nereus - foi enviado para a Fossa de Kermadec, a nordeste da Nova Zelândia. Mas o veículo subaquático implodiu a cerca de 10 mil metros de profundidade, muito provavelmente devido à imensa pressão. "Depois de 12 horas, nós o vimos emergir em pequenos pedaços", relembra Shank, acrescentando que a perda de Nereus fez com que eles repensassem a forma de explorar as profundezas dos mares. Com o tamanho aproximado de um quadriciclo e pesando cerca de 250 kg, Orpheus foi projetado para ser muito mais leve, menor e mais barato que os veículos subaquáticos anteriores. E ele também deve ser mais ágil e capaz de entrar em fossas e respiradouros no leito oceânico que nunca haviam sido explorados antes.


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